sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Epidemiologia das lesões relacionadas ao treinamento com pesos presentes nos departamentos de emergência dos Estados Unidos, 1990 a 2007

A popularidade do treinamento de força tem crescido ao longo da última década, com aproximadamente 64.5% mais pessoas participando no treinamento com pesos atualmente do que em 1998. Estimativas recentes levantadas entre 2006 e 2008 apontam um crescimento de 37 para 45 milhões no número de pessoas que praticam o treinamento com pesos livres e/ou com aparelhos (máquinas). Conforme o número de praticantes do treinamento com pesos continua a aumentar, aumenta também o número de pessoas em risco de lesão. Para reduzir ao menor nível possível os prejuízos das lesões relacionadas ao treinamento com pesos, os fatores epidemiológicos de tais lesões devem ser compreendidos.
Esse estudo é a primeira análise epidemiológica de todas as lesões relacionadas ao treinamento com pesos ao longo de todas as faixas etárias da população geral dos EUA durante os últimos 20 anos. Estudos sobre lesões relacionadas ao treinamento com pesos preliminares eram limitados a subgrupos de basistas (powerlifters) e adolescentes. Esse estudo adotou estimativas nacionais para analisar todas as lesões tratadas nos EUA que foram diretamente relacionadas ao treinamento com pesos, contribui com importantes informações para dirigir esforços focando a prevenção de lesões para essa crescente atividade do fitness. O número de lesões aumentou significativamente ao longo do tempo. De 1990 a 2007, o número de lesões relacionadas ao treinamento com pesos aumentou 48.4%, que foi maior do que o aumento de 35.0% observado entre 1978 e 1998. No mencionado período, 25.335 lesões bem caracterizadas foram documentadas em 100 hospitais e clínicas dos EUA. As lesões observadas ocorreram em indivíduos entre a faixa etária de 6-100 anos, com a idade média de 27,6 anos. Os homens sustentaram a maior proporção de lesões relacionadas ao treinamento com pesos (82.3%). As lesões foram agrupadas em sete categorias: distensões, contusões, lacerações, fraturas e luxações, concussões (choques violentos), hemorragias e outros. As ocorrências também foram agrupadas de acordo com a região do corpo. O centro do corpo (cabeça e tronco) sustentou a maior proporção de lesões 58.2%. Essa proporção foi discretamente maior que a proporção relatada anteriormente 50.7%.
Pessoas que utilizaram pesos livres sustentaram uma maior proporção de lesões em tecidos moles (41.9%) e nas mãos (33.6%) e lesões nos pés (33.5%) em relação às pessoas que utilizaram máquinas (21.1%, 27.7% e 6.7% respectivamente). As mulheres tiveram a maior proporção de lesões de tecidos moles (26.3%). Os homens apresentaram uma maior proporção de lesões na porção superior do tronco (26.8%) e lesões na porção inferior do tronco (20.8%) em relação às mulheres (18.4% e 14.7%, respectivamente). As mulheres apresentaram uma maior proporção de lesões nos pés (22.9%) e lesões nas pernas (6.3%) do que os homens (11.0% e 4.0%, respectivamente). As pessoas com 12 anos de idade ou menos apresentaram uma maior proporção de lesões nas mãos (37.9% quando comparadas às pessoas com 13 anos de idade ou acima (18.2%). Entre os indivíduos com idade entre 13 a 18 anos, as mulheres tiveram o maior aumento na incidência de lesões (143.4%) em relação aos homens (62.6%). As regiões corporais mais comumente afetadas foram a porção superior do tronco (25.3%), a porção inferior do tronco (19.7%) e as mãos (18.6%). Pessoas que utilizaram máquinas sustentaram uma maior proporção de lesões na cabeça (30.0%), braço (4.3%), perna (12.2%), e porção inferior do tronco (9.3%) em relação às pessoas que utilizaram pesos livres (14.8%, 2.0%, 2.4%, e 3.3%, respectivamente). As pessoas com 55 anos de idade ou mais se lesionaram mais ao utilizarem máquinas (18.2% do que pessoas com 54 anos de idade ou abaixo (9.3%).
Os diagnósticos mais comuns foram os entorses/luxações (46.1%) e tecidos moles (18.2%). Pessoas que utilizaram pesos livres sustentaram uma maior proporção de fraturas/deslocamentos (23.6%) quando comparadas a pessoas que utilizaram máquinas (9.7%). Pessoas que utilizaram máquinas sustentaram uma maior proporção de entorses/luxações (21.9%) e lacerações (35.1%) em relação às pessoas que utilizaram pesos livres (8.8% e 18.2%, respectivamente). Os homens apresentaram uma maior proporção de entorses/luxações (47.7%) e lacerações (9.6%) que as mulheres (38.9% e 7.0%, respectivamente). As mulheres tiveram a maior proporção a fraturas/deslocamentos (13.6%).
Um grande número de lesões ocorreu com a utilização de pesos livres (90.4%). Pessoas que utilizaram pesos livres sustentaram uma maior proporção de lesões sendo que o mecanismo mais comum é derrubar o peso sob a pessoa (65.5%), e enquanto levantavam/puxavam um peso (3.3%) em relação às pessoas que utilizaram máquinas (15.3% e 1.4%, respectivamente). Pessoas que utilizaram máquinas sustentaram uma maior proporção de lesões quando uma parte do corpo era esmagada/prensada entre os pesos (10.4%) e atingir a si mesmo (9.8%), outro mecanismo incluiu o esforço excessivo (7.9%), perda do balanço/queda (3.3%), e levantar/puxar (3.1%). Os homens apresentaram maiores proporções no esforço excessivo (8.6%) em relação às mulheres (5.7%).
Os homens sustentaram a maior proporção de lesões relacionadas ao treinamento com pesos que pode implicar que o treinamento com pesos é ainda uma atividade predominantemente praticada por homens. Embora os homens tenham sustentado a maioria das lesões relacionadas ao treinamento com pesos, houve um crescente aumento na incidência de lesões entre as mulheres em relação aos homens. Isso pode ter ocorrido pelo fato que conforme aumenta a aceitação do treinamento com pesos como uma atividade do fitness para as mulheres, mais mulheres estão participando em programas de treinamento com pesos. A maior proporção de lesões relacionadas ao treinamento com pesos ocorreu em jovens. É possível que com menos conhecimento de como manter o controle dos pesos enquanto fazem o movimento muscular, as extremidades corporais desses jovens estão mais suscetíveis a lesões. Todavia, os jovens devem receber uma consideração cuidadosa de seu programa de treinamento com peso com acompanhamento de seus pais, treinadores e médicos. Adicionalmente, uma supervisão adequada é recomendada quando os jovens realizam um programa de treinamento com pesos.
A proporção de lesões ocasionadas por esforço excessivo aumentou significativamente conforme o aumento da faixa etária. Com a idade, a habilidade (dos idosos) de praticar seus levantamentos preferidos e exercícios pode ter diminuído. Superestimar suas habilidades pode levar a lesões. As pessoas mais velhas sustentaram uma maior proporção de lesões por esforço excessivo e durante o levantamento/puxar (puxada) em relação aos jovens. Quando comparadas aos jovens, as pessoas mais velhas possuem também uma maior proporção de lesões geradas por máquinas quando comparadas com lesões ocasionadas por pesos livres. É possível que as pessoas mais velhas utilizem as máquinas ao invés de pesos livres por acreditarem que as máquinas requerem menor conhecimento de sua técnica, e pesos livres são intimidadores pela percepção de sua curva de aprendizado. Populações idosas participando em programas de treinamento com pesos deveriam compreender suas capacidades pessoais para levantar pesos e possuir um bom conhecimento do funcionamento de qualquer máquina que utilizem. As pessoas deveriam treinar com profissionais para a elaboração de planos de treinamento que levem em consideração a deterioração natural da idade.
A maioria das lesões foram relacionadas aos pesos livres (barras, anilhas, halteres). Por serem mais acessíveis e viáveis financeiramente, não é de se surpreender que os pesos livres estejam associados a uma maior incidência de lesões relacionadas ao treinamento com pesos. A utilização de máquinas pode ser considerada mais segura que a utilização de pesos livres, especialmente quando se considera que mais de 90% das lesões acontecem quando o equipamento utilizado é composto por pesos livres. Entretanto, a sensação de segurança que se tem ao utilizar máquinas pode levar o indivíduo a exceder seus limites. Tal excesso pode explicar a maior proporção de lesões por esforço excessivo observada em indivíduos que se exercitam em máquinas. Para evitar lesões, as pessoas devem receber instrução adequada ao utilizarem máquinas. Além disso, a maioria das máquinas é projetada para pessoas de tamanho comum (proporções corporais na média das pessoas), colocando em risco as pessoas que são maiores/mais altas ou menores/mais baixas.
A despeito das diferenças nas lesões relacionadas ao treinamento com pesos com base no tipo de equipamento, tanto as pessoas que utilizam pesos livres quanto as pessoas que utilizam máquinas sustentam mais lesões acidentais (azar, infortúnio) que poderiam ser evitadas (derrubar pesos, esmagar/apertar partes do corpo entre pesos, acertar a si mesmo) em relação às lesões ocasionadas por esforço excessivo ou levantamentos/puxar. Como resultado, na tentativa de reduzir o número total de lesões, nós recomendamos uma aderência mais cuidadosa dos praticantes no desenvolvimento de protocolos seguros de treinamento com pesos.
O crescente conhecimento da epidemiologia das lesões relacionadas ao treinamento com pesos baseadas no sexo, idade e tipo de equipamento utilizado deve levar ao desenvolvimento de medidas focadas na prevenção de lesões, reduzindo o número de casos entre os participantes do treinamento com pesos. Baseado em descobertas, antes de iniciar um programa de treinamento com pesos, as pessoas devem receber instrução adequada de como utilizar os equipamentos utilizados no treinamento com pesos, bem como a técnica adequada para os levantamentos, e deve consultar profissionais qualificados da área da saúde para elaborarem um programa de treinamento com pesos seguro baseado em sua idade e capacidades. Adicionalmente, pessoas que treinam com pesos livres deveriam fazê-lo com auxílio de uma pessoa, ou pelo menos com outras pessoas presentes para auxiliarem no controle dos pesos. Para reduzir a incidência e a gravidade das lesões, as pessoas deveriam adotar esses hábitos simples, porém de grande utilidade prática durante o desenvolvimento e implantação de um programa de treinamento com pesos.













KERR Z.Y, COLLINS C.L., and COMSTOCK R D. Epidemiology of Weighy Training-Related Injuries Preseting to United States Emergrncy Depártments, 1990 to 2007 The American Jornal of Sports Medicine, Vol 38, No 4, 765-771, 2010

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