quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Distúrbios Neurológicos Associados com o Levantamento de Peso e o Culturismo

O treinamento realizado através do esforço contra-resistência é chamado “treinamento resistido.” O treinamento com pesos é um método de treinamento resistido em que uma sobrecarga (na forma de pesos livres ou blocos de pesos numa máquina) é empurrada ou puxada como uma forma de resistência. O treinamento com pesos pode ser usado como um componente de um programa de condicionamento geral ou como parte de um treinamento geral com o objetivo de melhorar a capacidade do indivíduo para a performance nos esportes ou para satisfazer seus objetivos de condicionamento geral.
O levantamento básico é um esporte em que três levantamentos são executados: o agachamento, supino e o levantamento terra. O levantamento com pesos (também conhecido como levantamento Olímpico) é um esporte separado, em que os levantamentos realizados incluem o arranco e o arremesso. O fisiculturismo é uma competição que enfatiza uma aparência de extrema hipertrofia muscular conquistada através do treinamento com pesos. Em vernáculo, “levantamento com peso” é freqüentemente usado indiferentemente como “treinamento com peso,” e será usado assim neste artigo.

Pesquisas foram realizadas com intuito de identificar as principais lesões ocasionadas pelos praticantes do treinamento com pesos no sistema nervoso periférico e no sistema nervoso central
Foram identificadas lesões no sistema nervoso periférico e no sistema nervoso central em estudos realizados com atletas do treinamento com pesos. Veja a seguir algumas das lesões sistema nervoso periférico ocasionadas pelo treinamento com pesos:
Nervo Medial. A compressão do nervo mediano no punho referida como a síndrome do túnel do carpo é a neuropatia por compressão vista na população em geral. O treinamento com peso que envolve as extremidades superiores podem ser considerado um fator de risco para o desenvolvimento da síndrome do túnel do carpo. Relatos de fisiculturistas de competição descreveram que desenvolveram a síndrome do túnel do carpo enquanto usavam hormônio do crescimento. Acredita-se que isso seja similar ao visto na fisiopatologia em acromegálicos, com hipertrofia secundária do tecido mole à níveis sistêmicos elevados do hormônio do crescimento. A síndrome do túnel do carpo tem ocorrido em basistas que usam esteróides anabólicos para aumentar a performance.
Nervo Ulnar. O nervo ulnar é mais lesionado geralmente no túnel cubital ou no sulco ulnar no cotovelo e no canal de Guyon no punho. Ambos os locais de lesão são vistos em levantadores de peso e fisiculturistas.
Nervo Radial. A neuropatia radial proximal pode ocorrer por causa do levantamento de peso. É considerado que a lesão no nervo é resultado direto do treinamento e da subseqüente hipertrofia muscular.
Nervo Músculocutâneo. O nervo musculocutâneo é um local raro para ocorrer lesões na população em geral, mas pode ocorrer em levantadores de peso.
Nervo Supra-escapular. O nervo supra-escapular é normalmente lesionado em atletas de esportes de arremesso, no qual ocorrem em movimentos repetitivos acima da cabeça, mas a lesão nervo supra-escapular está também relacionada como uma conseqüência do treinamento com peso
Nervo Longo do Tórax. A lesão do nervo longo do tórax leva a fraqueza isolada do músculo serrátil anterior e para a escápula alada. Isso foi relatado em associação com os programas de treinamento com peso num número muito pequeno.
Nervo Peitoral Medial. Uma lesão no nervo que parece bastante específico para levantadores de peso e fisiculturistas.
Outros Nervos. Vários casos descrevem outras mononeuropatias incomuns especificamente em fisiculturistas, freqüentemente em associação com o uso de esteróides anabólicos. Alguns casos de lesão no nervo dorso-escapular com desnervação dos rombóides, outros de lesão no nervo toracodorsal com desnervação do grande dorsal sem envolvimento do músculo peitoral medial.
Plexo Braquial e Raízes Nervosas da Cervical. Pesquisadores documentaram radiculopatias cervicais e lesões do plexo braquial em levantadores de peso.
Nervos das Extremidades Inferiores. Lesão do nervo femoral tem sido relatada em fisiculturistas. A meralgia parestética, aprisionamento do nervo cutâneo femoral lateral da coxa ao nível do ligamento inguinal, é freqüentemente produzido por cintos usados para ficar pendurado (cintos deequipamentos), mas também pode ocorrer com cintos para levantamento de peso. Esses cintos largos são bem apertados na cintura por alguns levantadores de peso para aumentar a pressão intra-abdominal, ostensivamente para apoiar a região lombar durante o levantamento pesado

Existe, alguns distúrbios reconhecidos no sistema nervoso central que podem ser apresentadas nos levantadores de peso.
Cefaléia Benigna. Uma pesquisa constatou que 35% dos atletas universitários enfrentavam dor de cabeça associada com atividades esportivas; o treinamento com peso foi a segunda dor de cabeça mais freqüente relacionada ao esporte após a corrida. Acredita-se que os três diferentes tipos de dores de cabeça benigna são aquelas que ocorrem com relativa freqüência nos levantadores de peso: A cefaléia benigna por esforço, cefaléia cervicogênica e a enxaqueca induzida pelo exercício
A fisiopatologia da cefaléia benigna por esforço pode estar relacionada a qualquer distensão arterial ou venosa secundária a apnéia e a manobra de valsalva durante o esforço particularmente no levantamento com peso. Elevações acentuadas tanto na pressão arterial sistólica quanto na diastólica ocorrem durante os períodos de esforço máximo nos levantadores de peso. Isso pode alterar os vasos intracranianos. O aumento da pressão intratorácica e intra-abdominal durante o esforço pode também ser transmitida através do sistema vascular aumentando a pressão arterial intracranial e venosa. Vários autores sugem que um período de aquecimento antes do exercício pode prevenir a cefaléia benigna por esforço. Uma variante da cefaléia por esforço reconhecido é a “cefaléia do levantador de peso”, e sua fisiopatologia está relacionada com a tensão ligamentar cervical ou o estiramento, mas, outros autores acreditam que isso é mais provável de origem vascular e deste modo, um tipo de cefaléia benigna por esforço.
A cefaléia cervicogênica é reconhecida pela International Headache Society como um dos “descritores para distúrbios da coluna cervical associados a cefaléia”. Muitas estruturas diferentes sensíveis a dor no pescoço foram pressupostas como a produtora de dor nesta condição incluindo articulações, ligamentos, periósteo, anel fibroso, músculos cervicais, raiz nervosa cervical e artérias vertebrais e da carótida. Conforme observado em estudo, pesquisador propôs que a cefaléia dos levantadores de peso era uma cefaléia cervicogênica.
A enxaqueca induzida pelo esforço é mais comum em pacientes que enfrentam episódios de enxaqueca sem exercício. Essas cefaléias tendem a ser provocadas pelo exercício aeróbio máximo e submáximo e são, portanto relativamente incomum em levantadores de peso. O tratamento é similar aquele para a enxaqueca típica.
Outra causa incomum para cefaléia nos levantadores de peso é a pressão do fluido cérebro-espinhal baixa. Essa cefaléia é característica da postura (piora quando ereto). Essa situação, ocorre por causa da perda do fluido cérebro-espinhal, com a ruptura dural mais freqüentemente ocorrendo na raiz do nervo espinhal ao redor das bainhas durais na região torácica.
A hemorragia subaracnóidea em associação com o treinamento com peso pode ser causado pelo aumento da pressão transmural aneurismática secundária ao aumento da pressão arterial média. Casos da ruptura de aneurisma intra-craniano tem ocorrido durante os exercícios rosca para bíceps ou durante o exercício leg press. A hemorragia subaracnóidea causada pela ruptura de más formações arteriovenosas) é menos comum. A pressão vascular muda durante as manobras de valsalva, que apareceram novamente para aumentar o risco de ruptura de más formações arteriovenosas.
Pesquisadores acreditam que a hipertrofia muscular excessiva pode produzir grandes mudanças de pressão sistemicamente durante a manobra de valsalva, predispondo os levantadores de pesos (particularmente aqueles que usam esteróides) para o desenvolvimento do hematomas subdurais não traumáticos. Outros autores acreditam que o período inesperado de hipotensão intra-cranial relativa após a valsalva, causa retração cerebral e subseqüente ruptura de pontes venosas levando ao hematomas subdurais não traumáticos.
O hematoma epidural espinhal e uma emergência neurológica tem ocorrido causando quadriplegia parcial aguda em um atleta fazendo exercícios abdominais enquanto realizava manobra de valsalva. Embora não tenha sido encontrada nenhuma anormalidade vascular subjacente, acredita-se que a transmissão das pressões intra-torácica elevada e intra-abdominal para o plexo venoso epidural levou diretamente a ruptura.
A hemorragia intra-cranial em indivíduos jovens, saudáveis que não tinham uma estrutura básica, lesão vascular ou coagulopatias é incomum, mas pode ocorrer em levantadores de peso.
A hemorragia no neuroma acústico durante o treinamento com peso pesado também foi relatado (representando aproximadamente 8% de todos os tumores do cérebro). Os vasos de paredes finas nesses tumores hiper-vasculares podem estar suscetíveis a ruptura quando sujeitados ao aumento acentuado das pressões arteriais observadas no treinamento com pesos.
O derrame tem ocorrido em fisisculturistas que tem história de anos de uso de esteróide anabólico. O uso do esteróide pode ter promovido agregação da plaqueta e hipercoagulabilidde. Ocorreu também derrame na região medial da artéria cerebral em atletas que tinha consumido uma mistura contendo efedrina, cafeína e creatina. A efedrina pode ter precipitado o derrame, ambos sozinho ou em associação com outros suplementos. O derrame isquêmico na região da arterial cerebral posterior esquerda tem ocorrido em praticantes do treinamento com pesos saudáveis que realizavam abdominais com manobra de valsalva. Isso foi proposto ser devido a uma dissecção vascular intra-cranial da arteria cerebral posterior. O derrame isquêmico que ocorre durante o treinamento com peso foi atribuído a manobra de valsalva causando inversão do fluxo através de um forame oval patente.
A trombose dos sinos durais foi atribuída ao uso de andrógenos pelos fisiculturistas.
Concluímos que as lesões do nervo periférico são relativamente incomuns nos estudos, que examinam tipos de lesão associados com atividades desportivas, com uma estimativa de que as lesões do nervo periférico conte talvez com 0.5% de todas as lesões associadas com os esforços atléticos. Quando especificamente relacionadas com lesões causadas pelo treinamento com peso, as porcentagens das lesões foram de 3.1% a 3.7%.
Várias outras lesões do sistema nervoso periférico em atletas de outros esportes, no entanto, foram consideradas estar relacionadas ao treinamento com peso submetido a esses esportes indicando que isso pode ser uma subavaliação.
A lesão no sistema nervoso ocorre como uma conseqüência da compressão mecânica crônica repetida, que resulta de uma combinação do posicionamento e fatores externos incluindo a hipertrofia muscular e a lesão (edema) do tecido mole local. A lesão ainda pode ocorrer pela combinação da compressão direta e da tensão (tração) do nervo causado pela flexão prolongada da articulação. O levantamento de peso, pode ser o causador de lesões, porque muitos exercícios realizados na academia podem envolver o apoio numa superfície firme ou parcialmente firme para minimizar o uso de outros músculos, tais como quando fazemos exercícios para o músculo bíceps. A lesão no sistema nervoso pode ocorrer em relação ao processo de levantamento de peso pelos mecanismos citados anteriormente pelos alongamentos durante o treinamento ou através de drogas como os esteróides anabólicos ou hormônio do crescimento usado para aumentar a eficácia do treinamento. A lesão do sistema nervoso pode resultar de complicação de auto injeção produzindo trauma direto e com os efeitos fisiológicos das substâncias usadas, O uso dessas drogas e outros suplementos, tanto legais quanto ilegais foram relatados ser comum e crescente. Em alguns casos de lesão no sistema nervoso pode ser ocasionados por anormalidades anatômicas presentes em determinadas articulações. E nas lesões do sistema nervoso central situações intracranial mais ameaçadoras foram associadas com o levantamento de peso. A maioria delas, acredita-se estar associada com aumentos acentuados na pressão intra-abdominal, intra-torácica, e intra-arterial durante a manobra de valsalva no meio do movimento com pesos pesados. A pressão intra-arterial pode ser transmitida diretamente para os vasos intra-cranial, com o aumento da pressão intra-torácica, também aumentando a pressão venosa central, por meio disso impedindo o fluxo venoso e levando ao aumento da pressão intra-cranial, sendo preciptado por atletas que fazem uso de drogas pois as substâncias androgênicas podem aumentar a agregação de plaquetas e aumento da coagulação, e as substâncias reconhecida como um simpatomimético ou vasoconstritor tem sido associado a lesões graves no sistema nervoso central.

Tanto o treinamento com peso saudável quanto suas complicações associadas à prática podem afetar o sistema nervoso central e periférico. O levantamento de peso está se tornando mais prevalente na população geral que pode predizer um aumento na incidência destas condições. Se adequadamente supervisionado, o treinamento com pesos pode ser seguro e eficaz e pode também facilitar na redução do risco para lesão durante a participação em atividades esportivas. O programa de treinamento resistido para a população deve focar principalmente na segurança da utilização dos equipamentos para evitar lesões, na aquisição das técnicas apropriadas e, finalmente, na progressão do treinamento apropriada, que permita o desenvolvimento das qualidades de aptidão desejada. O treinamento resistido sem supervisão deve ser evitado.
Os estudos eletromiográficos, tem mostrado o custo benefício de muitos exercícios realizados por esses atletas do treinamento com pesos, provando se as angulações de bancos, pegadas nas barras, posição dos pés, etc, enfatiza ou não enfatiza, isola ou não isola, recruta ou não recruta, mais aquele segmento muscular que esta sendo solicitado naquele movimento especifico .

BUSCHE K. Neurologic Disorders Associated with Weight Lifting and Bodybuilding. Phys Med Rehabil Clin N Am 20 (2009) 273–286

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