quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O paradoxo do exercício: doses adequadas e benefícios, doses inadequadas e riscos.

Embora já esteja bem estabelecida e divulgada a importância da atividade física na prevenção de doenças, o sedentarismo ainda predomina em nossa população. Se, por um lado, a vida moderna de boa parte da população leva ao sedentarismo, por outro lado, existe um número crescente de indivíduos que já ultrapassaram a faixa necessária para saúde de atividade física diária, estando em busca de superação de suas próprias marcas, o que, eventualmente, pode levar a conseqüências graves.

Devem ser feitas distinções com o intuito de orientar a população sobre as inúmeras diferenças entre a atividade física, os exercícios físicos e as atividades esportivas.Com o objetivo de prevenção de doenças e de promoção de saúde, portanto, deve-se incentivar, sempre, as atividades físicas na forma de exercícios regulares. A orientação para a população geral deverá ser quanto à atividade física a ser executada, ou seja, na forma de exercícios físicos regulares, a princípio, em uma faixa de intensidade leve a moderada.

Cada vez mais, indivíduos em geral querem ser atletas, espelhando-se em ídolos do esporte, o que remete à reflexão: “Como? Quando? Quanto?”. Por outro lado, existem cada vez mais indivíduos no pólo oposto, que mergulham no sedentarismo (o que explica a epidemia atual de obesidade), cujo maior esforço é apertar botões dos controles remotos ou mesmo dos aparelhos de microondas para preparar o “fast food”, o que remete à mesma reflexão: “Como? Quando? Quanto?”.

Hoje, a sociedade vivencia esta dicotomia: se por um lado um grupo quer se exceder, por outro, há, também, um grande grupo que não abandona o sedentarismo, necessitando de motivação e de auxílio multi-profissional na orientação das suas atividades físicas, caracterizadas por exercícios regulares que, eventualmente, poderão ser incorporados a determinadas atividades esportivas.

Assim, pode-se responder à pergunta “Como?”. Com bom senso, pode-se gerenciar o grau de atividade física para os já esportistas, assim como para os sedentários, fazendo-os perceber que a área onde são encontrados os benefícios dos exercícios físicos regulares está bem adiante da inatividade física, mas, certamente, muito antes de recordes olímpicos.

À pergunta “Quando?”, responde-se com a indicação de que se deve fazer os opostos perceberem que todos os dias poderão ser realizadas atividades físicas, mas com graus de intensidades variados, de acordo com o nível de aptidão de cada indivíduo, o que também responderá à questão do “Quanto?” poderão realizar.

A dualidade continua no apelo ao físico ideal (aspecto exterior) e às condições cardiorespiratórias e metabólicas (aspecto interior), devendo-se buscar o equilíbrio.
Uma questão ainda não muito bem estabelecida é se a população, de uma maneira geral, pode ser submetida a treinamento intenso, visando marcas cada vez mais difíceis de serem ultrapassadas, vencendo seus próprios limites.

Atividade física, exercício e esporte: será que quanto mais, melhor?
Estudos, evidenciaram um maior risco relativo de morte súbita, na população, com maior exposição às atividades esportivas de alto rendimento, quando comparado à população da mesma faixa etária (grupo de controle) que não tinha essa mesma exposição. Uma meta-análise, relatada por pesquisador, em populações de cardiopatas submetidos a treinamento físico supervisionado, aponta para a diminuição das chances de morte ou de novo evento cardiovascular, como o infarto agudo do miocárdio, em 30%.

Estudo demonstrou que os exercícios resistidos, três vezes por semana, melhoraram o controle glicêmico, além de diminuírem o risco da síndrome metabólica em pacientes diabéticos.

CONCLUSÃO
Pode-se, assim, de forma geral, concluir que a atividade física tem ação protetora global, mas, se exagerada, faz com que estes mecanismos de proteção diminuam, dando abertura para maiores riscos, quer sejam por lesões periféricas (musculares) ou, até mesmo, cardíacas (arritmias).

Tornando-se mais ativos, através da atividade física, os indivíduos tendem a um maior controle ponderal da composição corporal, a uma melhora da capacidade física (potência aeróbica), a um aumento na força e na flexibilidade do sistema osteomioarticular, a uma redução dos níveis de pressão arterial, prevenindo eventos cardiovasculares e re-infartos, além de, no âmbito psico-social, promover uma elevação dos índices de qualidade de vida.




Carlos Alberto Hossri O paradoxo do exercício: doses adequadas e benefícios, doses inadequadas e riscos. Revista de Educação Física 2007;137:70-73

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Epidemiologia das lesões relacionadas ao treinamento com pesos presentes nos departamentos de emergência dos Estados Unidos, 1990 a 2007

A popularidade do treinamento de força tem crescido ao longo da última década, com aproximadamente 64.5% mais pessoas participando no treinamento com pesos atualmente do que em 1998. Estimativas recentes levantadas entre 2006 e 2008 apontam um crescimento de 37 para 45 milhões no número de pessoas que praticam o treinamento com pesos livres e/ou com aparelhos (máquinas). Conforme o número de praticantes do treinamento com pesos continua a aumentar, aumenta também o número de pessoas em risco de lesão. Para reduzir ao menor nível possível os prejuízos das lesões relacionadas ao treinamento com pesos, os fatores epidemiológicos de tais lesões devem ser compreendidos.
Esse estudo é a primeira análise epidemiológica de todas as lesões relacionadas ao treinamento com pesos ao longo de todas as faixas etárias da população geral dos EUA durante os últimos 20 anos. Estudos sobre lesões relacionadas ao treinamento com pesos preliminares eram limitados a subgrupos de basistas (powerlifters) e adolescentes. Esse estudo adotou estimativas nacionais para analisar todas as lesões tratadas nos EUA que foram diretamente relacionadas ao treinamento com pesos, contribui com importantes informações para dirigir esforços focando a prevenção de lesões para essa crescente atividade do fitness. O número de lesões aumentou significativamente ao longo do tempo. De 1990 a 2007, o número de lesões relacionadas ao treinamento com pesos aumentou 48.4%, que foi maior do que o aumento de 35.0% observado entre 1978 e 1998. No mencionado período, 25.335 lesões bem caracterizadas foram documentadas em 100 hospitais e clínicas dos EUA. As lesões observadas ocorreram em indivíduos entre a faixa etária de 6-100 anos, com a idade média de 27,6 anos. Os homens sustentaram a maior proporção de lesões relacionadas ao treinamento com pesos (82.3%). As lesões foram agrupadas em sete categorias: distensões, contusões, lacerações, fraturas e luxações, concussões (choques violentos), hemorragias e outros. As ocorrências também foram agrupadas de acordo com a região do corpo. O centro do corpo (cabeça e tronco) sustentou a maior proporção de lesões 58.2%. Essa proporção foi discretamente maior que a proporção relatada anteriormente 50.7%.
Pessoas que utilizaram pesos livres sustentaram uma maior proporção de lesões em tecidos moles (41.9%) e nas mãos (33.6%) e lesões nos pés (33.5%) em relação às pessoas que utilizaram máquinas (21.1%, 27.7% e 6.7% respectivamente). As mulheres tiveram a maior proporção de lesões de tecidos moles (26.3%). Os homens apresentaram uma maior proporção de lesões na porção superior do tronco (26.8%) e lesões na porção inferior do tronco (20.8%) em relação às mulheres (18.4% e 14.7%, respectivamente). As mulheres apresentaram uma maior proporção de lesões nos pés (22.9%) e lesões nas pernas (6.3%) do que os homens (11.0% e 4.0%, respectivamente). As pessoas com 12 anos de idade ou menos apresentaram uma maior proporção de lesões nas mãos (37.9% quando comparadas às pessoas com 13 anos de idade ou acima (18.2%). Entre os indivíduos com idade entre 13 a 18 anos, as mulheres tiveram o maior aumento na incidência de lesões (143.4%) em relação aos homens (62.6%). As regiões corporais mais comumente afetadas foram a porção superior do tronco (25.3%), a porção inferior do tronco (19.7%) e as mãos (18.6%). Pessoas que utilizaram máquinas sustentaram uma maior proporção de lesões na cabeça (30.0%), braço (4.3%), perna (12.2%), e porção inferior do tronco (9.3%) em relação às pessoas que utilizaram pesos livres (14.8%, 2.0%, 2.4%, e 3.3%, respectivamente). As pessoas com 55 anos de idade ou mais se lesionaram mais ao utilizarem máquinas (18.2% do que pessoas com 54 anos de idade ou abaixo (9.3%).
Os diagnósticos mais comuns foram os entorses/luxações (46.1%) e tecidos moles (18.2%). Pessoas que utilizaram pesos livres sustentaram uma maior proporção de fraturas/deslocamentos (23.6%) quando comparadas a pessoas que utilizaram máquinas (9.7%). Pessoas que utilizaram máquinas sustentaram uma maior proporção de entorses/luxações (21.9%) e lacerações (35.1%) em relação às pessoas que utilizaram pesos livres (8.8% e 18.2%, respectivamente). Os homens apresentaram uma maior proporção de entorses/luxações (47.7%) e lacerações (9.6%) que as mulheres (38.9% e 7.0%, respectivamente). As mulheres tiveram a maior proporção a fraturas/deslocamentos (13.6%).
Um grande número de lesões ocorreu com a utilização de pesos livres (90.4%). Pessoas que utilizaram pesos livres sustentaram uma maior proporção de lesões sendo que o mecanismo mais comum é derrubar o peso sob a pessoa (65.5%), e enquanto levantavam/puxavam um peso (3.3%) em relação às pessoas que utilizaram máquinas (15.3% e 1.4%, respectivamente). Pessoas que utilizaram máquinas sustentaram uma maior proporção de lesões quando uma parte do corpo era esmagada/prensada entre os pesos (10.4%) e atingir a si mesmo (9.8%), outro mecanismo incluiu o esforço excessivo (7.9%), perda do balanço/queda (3.3%), e levantar/puxar (3.1%). Os homens apresentaram maiores proporções no esforço excessivo (8.6%) em relação às mulheres (5.7%).
Os homens sustentaram a maior proporção de lesões relacionadas ao treinamento com pesos que pode implicar que o treinamento com pesos é ainda uma atividade predominantemente praticada por homens. Embora os homens tenham sustentado a maioria das lesões relacionadas ao treinamento com pesos, houve um crescente aumento na incidência de lesões entre as mulheres em relação aos homens. Isso pode ter ocorrido pelo fato que conforme aumenta a aceitação do treinamento com pesos como uma atividade do fitness para as mulheres, mais mulheres estão participando em programas de treinamento com pesos. A maior proporção de lesões relacionadas ao treinamento com pesos ocorreu em jovens. É possível que com menos conhecimento de como manter o controle dos pesos enquanto fazem o movimento muscular, as extremidades corporais desses jovens estão mais suscetíveis a lesões. Todavia, os jovens devem receber uma consideração cuidadosa de seu programa de treinamento com peso com acompanhamento de seus pais, treinadores e médicos. Adicionalmente, uma supervisão adequada é recomendada quando os jovens realizam um programa de treinamento com pesos.
A proporção de lesões ocasionadas por esforço excessivo aumentou significativamente conforme o aumento da faixa etária. Com a idade, a habilidade (dos idosos) de praticar seus levantamentos preferidos e exercícios pode ter diminuído. Superestimar suas habilidades pode levar a lesões. As pessoas mais velhas sustentaram uma maior proporção de lesões por esforço excessivo e durante o levantamento/puxar (puxada) em relação aos jovens. Quando comparadas aos jovens, as pessoas mais velhas possuem também uma maior proporção de lesões geradas por máquinas quando comparadas com lesões ocasionadas por pesos livres. É possível que as pessoas mais velhas utilizem as máquinas ao invés de pesos livres por acreditarem que as máquinas requerem menor conhecimento de sua técnica, e pesos livres são intimidadores pela percepção de sua curva de aprendizado. Populações idosas participando em programas de treinamento com pesos deveriam compreender suas capacidades pessoais para levantar pesos e possuir um bom conhecimento do funcionamento de qualquer máquina que utilizem. As pessoas deveriam treinar com profissionais para a elaboração de planos de treinamento que levem em consideração a deterioração natural da idade.
A maioria das lesões foram relacionadas aos pesos livres (barras, anilhas, halteres). Por serem mais acessíveis e viáveis financeiramente, não é de se surpreender que os pesos livres estejam associados a uma maior incidência de lesões relacionadas ao treinamento com pesos. A utilização de máquinas pode ser considerada mais segura que a utilização de pesos livres, especialmente quando se considera que mais de 90% das lesões acontecem quando o equipamento utilizado é composto por pesos livres. Entretanto, a sensação de segurança que se tem ao utilizar máquinas pode levar o indivíduo a exceder seus limites. Tal excesso pode explicar a maior proporção de lesões por esforço excessivo observada em indivíduos que se exercitam em máquinas. Para evitar lesões, as pessoas devem receber instrução adequada ao utilizarem máquinas. Além disso, a maioria das máquinas é projetada para pessoas de tamanho comum (proporções corporais na média das pessoas), colocando em risco as pessoas que são maiores/mais altas ou menores/mais baixas.
A despeito das diferenças nas lesões relacionadas ao treinamento com pesos com base no tipo de equipamento, tanto as pessoas que utilizam pesos livres quanto as pessoas que utilizam máquinas sustentam mais lesões acidentais (azar, infortúnio) que poderiam ser evitadas (derrubar pesos, esmagar/apertar partes do corpo entre pesos, acertar a si mesmo) em relação às lesões ocasionadas por esforço excessivo ou levantamentos/puxar. Como resultado, na tentativa de reduzir o número total de lesões, nós recomendamos uma aderência mais cuidadosa dos praticantes no desenvolvimento de protocolos seguros de treinamento com pesos.
O crescente conhecimento da epidemiologia das lesões relacionadas ao treinamento com pesos baseadas no sexo, idade e tipo de equipamento utilizado deve levar ao desenvolvimento de medidas focadas na prevenção de lesões, reduzindo o número de casos entre os participantes do treinamento com pesos. Baseado em descobertas, antes de iniciar um programa de treinamento com pesos, as pessoas devem receber instrução adequada de como utilizar os equipamentos utilizados no treinamento com pesos, bem como a técnica adequada para os levantamentos, e deve consultar profissionais qualificados da área da saúde para elaborarem um programa de treinamento com pesos seguro baseado em sua idade e capacidades. Adicionalmente, pessoas que treinam com pesos livres deveriam fazê-lo com auxílio de uma pessoa, ou pelo menos com outras pessoas presentes para auxiliarem no controle dos pesos. Para reduzir a incidência e a gravidade das lesões, as pessoas deveriam adotar esses hábitos simples, porém de grande utilidade prática durante o desenvolvimento e implantação de um programa de treinamento com pesos.













KERR Z.Y, COLLINS C.L., and COMSTOCK R D. Epidemiology of Weighy Training-Related Injuries Preseting to United States Emergrncy Depártments, 1990 to 2007 The American Jornal of Sports Medicine, Vol 38, No 4, 765-771, 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Distúrbios Neurológicos Associados com o Levantamento de Peso e o Culturismo

O treinamento realizado através do esforço contra-resistência é chamado “treinamento resistido.” O treinamento com pesos é um método de treinamento resistido em que uma sobrecarga (na forma de pesos livres ou blocos de pesos numa máquina) é empurrada ou puxada como uma forma de resistência. O treinamento com pesos pode ser usado como um componente de um programa de condicionamento geral ou como parte de um treinamento geral com o objetivo de melhorar a capacidade do indivíduo para a performance nos esportes ou para satisfazer seus objetivos de condicionamento geral.
O levantamento básico é um esporte em que três levantamentos são executados: o agachamento, supino e o levantamento terra. O levantamento com pesos (também conhecido como levantamento Olímpico) é um esporte separado, em que os levantamentos realizados incluem o arranco e o arremesso. O fisiculturismo é uma competição que enfatiza uma aparência de extrema hipertrofia muscular conquistada através do treinamento com pesos. Em vernáculo, “levantamento com peso” é freqüentemente usado indiferentemente como “treinamento com peso,” e será usado assim neste artigo.

Pesquisas foram realizadas com intuito de identificar as principais lesões ocasionadas pelos praticantes do treinamento com pesos no sistema nervoso periférico e no sistema nervoso central
Foram identificadas lesões no sistema nervoso periférico e no sistema nervoso central em estudos realizados com atletas do treinamento com pesos. Veja a seguir algumas das lesões sistema nervoso periférico ocasionadas pelo treinamento com pesos:
Nervo Medial. A compressão do nervo mediano no punho referida como a síndrome do túnel do carpo é a neuropatia por compressão vista na população em geral. O treinamento com peso que envolve as extremidades superiores podem ser considerado um fator de risco para o desenvolvimento da síndrome do túnel do carpo. Relatos de fisiculturistas de competição descreveram que desenvolveram a síndrome do túnel do carpo enquanto usavam hormônio do crescimento. Acredita-se que isso seja similar ao visto na fisiopatologia em acromegálicos, com hipertrofia secundária do tecido mole à níveis sistêmicos elevados do hormônio do crescimento. A síndrome do túnel do carpo tem ocorrido em basistas que usam esteróides anabólicos para aumentar a performance.
Nervo Ulnar. O nervo ulnar é mais lesionado geralmente no túnel cubital ou no sulco ulnar no cotovelo e no canal de Guyon no punho. Ambos os locais de lesão são vistos em levantadores de peso e fisiculturistas.
Nervo Radial. A neuropatia radial proximal pode ocorrer por causa do levantamento de peso. É considerado que a lesão no nervo é resultado direto do treinamento e da subseqüente hipertrofia muscular.
Nervo Músculocutâneo. O nervo musculocutâneo é um local raro para ocorrer lesões na população em geral, mas pode ocorrer em levantadores de peso.
Nervo Supra-escapular. O nervo supra-escapular é normalmente lesionado em atletas de esportes de arremesso, no qual ocorrem em movimentos repetitivos acima da cabeça, mas a lesão nervo supra-escapular está também relacionada como uma conseqüência do treinamento com peso
Nervo Longo do Tórax. A lesão do nervo longo do tórax leva a fraqueza isolada do músculo serrátil anterior e para a escápula alada. Isso foi relatado em associação com os programas de treinamento com peso num número muito pequeno.
Nervo Peitoral Medial. Uma lesão no nervo que parece bastante específico para levantadores de peso e fisiculturistas.
Outros Nervos. Vários casos descrevem outras mononeuropatias incomuns especificamente em fisiculturistas, freqüentemente em associação com o uso de esteróides anabólicos. Alguns casos de lesão no nervo dorso-escapular com desnervação dos rombóides, outros de lesão no nervo toracodorsal com desnervação do grande dorsal sem envolvimento do músculo peitoral medial.
Plexo Braquial e Raízes Nervosas da Cervical. Pesquisadores documentaram radiculopatias cervicais e lesões do plexo braquial em levantadores de peso.
Nervos das Extremidades Inferiores. Lesão do nervo femoral tem sido relatada em fisiculturistas. A meralgia parestética, aprisionamento do nervo cutâneo femoral lateral da coxa ao nível do ligamento inguinal, é freqüentemente produzido por cintos usados para ficar pendurado (cintos deequipamentos), mas também pode ocorrer com cintos para levantamento de peso. Esses cintos largos são bem apertados na cintura por alguns levantadores de peso para aumentar a pressão intra-abdominal, ostensivamente para apoiar a região lombar durante o levantamento pesado

Existe, alguns distúrbios reconhecidos no sistema nervoso central que podem ser apresentadas nos levantadores de peso.
Cefaléia Benigna. Uma pesquisa constatou que 35% dos atletas universitários enfrentavam dor de cabeça associada com atividades esportivas; o treinamento com peso foi a segunda dor de cabeça mais freqüente relacionada ao esporte após a corrida. Acredita-se que os três diferentes tipos de dores de cabeça benigna são aquelas que ocorrem com relativa freqüência nos levantadores de peso: A cefaléia benigna por esforço, cefaléia cervicogênica e a enxaqueca induzida pelo exercício
A fisiopatologia da cefaléia benigna por esforço pode estar relacionada a qualquer distensão arterial ou venosa secundária a apnéia e a manobra de valsalva durante o esforço particularmente no levantamento com peso. Elevações acentuadas tanto na pressão arterial sistólica quanto na diastólica ocorrem durante os períodos de esforço máximo nos levantadores de peso. Isso pode alterar os vasos intracranianos. O aumento da pressão intratorácica e intra-abdominal durante o esforço pode também ser transmitida através do sistema vascular aumentando a pressão arterial intracranial e venosa. Vários autores sugem que um período de aquecimento antes do exercício pode prevenir a cefaléia benigna por esforço. Uma variante da cefaléia por esforço reconhecido é a “cefaléia do levantador de peso”, e sua fisiopatologia está relacionada com a tensão ligamentar cervical ou o estiramento, mas, outros autores acreditam que isso é mais provável de origem vascular e deste modo, um tipo de cefaléia benigna por esforço.
A cefaléia cervicogênica é reconhecida pela International Headache Society como um dos “descritores para distúrbios da coluna cervical associados a cefaléia”. Muitas estruturas diferentes sensíveis a dor no pescoço foram pressupostas como a produtora de dor nesta condição incluindo articulações, ligamentos, periósteo, anel fibroso, músculos cervicais, raiz nervosa cervical e artérias vertebrais e da carótida. Conforme observado em estudo, pesquisador propôs que a cefaléia dos levantadores de peso era uma cefaléia cervicogênica.
A enxaqueca induzida pelo esforço é mais comum em pacientes que enfrentam episódios de enxaqueca sem exercício. Essas cefaléias tendem a ser provocadas pelo exercício aeróbio máximo e submáximo e são, portanto relativamente incomum em levantadores de peso. O tratamento é similar aquele para a enxaqueca típica.
Outra causa incomum para cefaléia nos levantadores de peso é a pressão do fluido cérebro-espinhal baixa. Essa cefaléia é característica da postura (piora quando ereto). Essa situação, ocorre por causa da perda do fluido cérebro-espinhal, com a ruptura dural mais freqüentemente ocorrendo na raiz do nervo espinhal ao redor das bainhas durais na região torácica.
A hemorragia subaracnóidea em associação com o treinamento com peso pode ser causado pelo aumento da pressão transmural aneurismática secundária ao aumento da pressão arterial média. Casos da ruptura de aneurisma intra-craniano tem ocorrido durante os exercícios rosca para bíceps ou durante o exercício leg press. A hemorragia subaracnóidea causada pela ruptura de más formações arteriovenosas) é menos comum. A pressão vascular muda durante as manobras de valsalva, que apareceram novamente para aumentar o risco de ruptura de más formações arteriovenosas.
Pesquisadores acreditam que a hipertrofia muscular excessiva pode produzir grandes mudanças de pressão sistemicamente durante a manobra de valsalva, predispondo os levantadores de pesos (particularmente aqueles que usam esteróides) para o desenvolvimento do hematomas subdurais não traumáticos. Outros autores acreditam que o período inesperado de hipotensão intra-cranial relativa após a valsalva, causa retração cerebral e subseqüente ruptura de pontes venosas levando ao hematomas subdurais não traumáticos.
O hematoma epidural espinhal e uma emergência neurológica tem ocorrido causando quadriplegia parcial aguda em um atleta fazendo exercícios abdominais enquanto realizava manobra de valsalva. Embora não tenha sido encontrada nenhuma anormalidade vascular subjacente, acredita-se que a transmissão das pressões intra-torácica elevada e intra-abdominal para o plexo venoso epidural levou diretamente a ruptura.
A hemorragia intra-cranial em indivíduos jovens, saudáveis que não tinham uma estrutura básica, lesão vascular ou coagulopatias é incomum, mas pode ocorrer em levantadores de peso.
A hemorragia no neuroma acústico durante o treinamento com peso pesado também foi relatado (representando aproximadamente 8% de todos os tumores do cérebro). Os vasos de paredes finas nesses tumores hiper-vasculares podem estar suscetíveis a ruptura quando sujeitados ao aumento acentuado das pressões arteriais observadas no treinamento com pesos.
O derrame tem ocorrido em fisisculturistas que tem história de anos de uso de esteróide anabólico. O uso do esteróide pode ter promovido agregação da plaqueta e hipercoagulabilidde. Ocorreu também derrame na região medial da artéria cerebral em atletas que tinha consumido uma mistura contendo efedrina, cafeína e creatina. A efedrina pode ter precipitado o derrame, ambos sozinho ou em associação com outros suplementos. O derrame isquêmico na região da arterial cerebral posterior esquerda tem ocorrido em praticantes do treinamento com pesos saudáveis que realizavam abdominais com manobra de valsalva. Isso foi proposto ser devido a uma dissecção vascular intra-cranial da arteria cerebral posterior. O derrame isquêmico que ocorre durante o treinamento com peso foi atribuído a manobra de valsalva causando inversão do fluxo através de um forame oval patente.
A trombose dos sinos durais foi atribuída ao uso de andrógenos pelos fisiculturistas.
Concluímos que as lesões do nervo periférico são relativamente incomuns nos estudos, que examinam tipos de lesão associados com atividades desportivas, com uma estimativa de que as lesões do nervo periférico conte talvez com 0.5% de todas as lesões associadas com os esforços atléticos. Quando especificamente relacionadas com lesões causadas pelo treinamento com peso, as porcentagens das lesões foram de 3.1% a 3.7%.
Várias outras lesões do sistema nervoso periférico em atletas de outros esportes, no entanto, foram consideradas estar relacionadas ao treinamento com peso submetido a esses esportes indicando que isso pode ser uma subavaliação.
A lesão no sistema nervoso ocorre como uma conseqüência da compressão mecânica crônica repetida, que resulta de uma combinação do posicionamento e fatores externos incluindo a hipertrofia muscular e a lesão (edema) do tecido mole local. A lesão ainda pode ocorrer pela combinação da compressão direta e da tensão (tração) do nervo causado pela flexão prolongada da articulação. O levantamento de peso, pode ser o causador de lesões, porque muitos exercícios realizados na academia podem envolver o apoio numa superfície firme ou parcialmente firme para minimizar o uso de outros músculos, tais como quando fazemos exercícios para o músculo bíceps. A lesão no sistema nervoso pode ocorrer em relação ao processo de levantamento de peso pelos mecanismos citados anteriormente pelos alongamentos durante o treinamento ou através de drogas como os esteróides anabólicos ou hormônio do crescimento usado para aumentar a eficácia do treinamento. A lesão do sistema nervoso pode resultar de complicação de auto injeção produzindo trauma direto e com os efeitos fisiológicos das substâncias usadas, O uso dessas drogas e outros suplementos, tanto legais quanto ilegais foram relatados ser comum e crescente. Em alguns casos de lesão no sistema nervoso pode ser ocasionados por anormalidades anatômicas presentes em determinadas articulações. E nas lesões do sistema nervoso central situações intracranial mais ameaçadoras foram associadas com o levantamento de peso. A maioria delas, acredita-se estar associada com aumentos acentuados na pressão intra-abdominal, intra-torácica, e intra-arterial durante a manobra de valsalva no meio do movimento com pesos pesados. A pressão intra-arterial pode ser transmitida diretamente para os vasos intra-cranial, com o aumento da pressão intra-torácica, também aumentando a pressão venosa central, por meio disso impedindo o fluxo venoso e levando ao aumento da pressão intra-cranial, sendo preciptado por atletas que fazem uso de drogas pois as substâncias androgênicas podem aumentar a agregação de plaquetas e aumento da coagulação, e as substâncias reconhecida como um simpatomimético ou vasoconstritor tem sido associado a lesões graves no sistema nervoso central.

Tanto o treinamento com peso saudável quanto suas complicações associadas à prática podem afetar o sistema nervoso central e periférico. O levantamento de peso está se tornando mais prevalente na população geral que pode predizer um aumento na incidência destas condições. Se adequadamente supervisionado, o treinamento com pesos pode ser seguro e eficaz e pode também facilitar na redução do risco para lesão durante a participação em atividades esportivas. O programa de treinamento resistido para a população deve focar principalmente na segurança da utilização dos equipamentos para evitar lesões, na aquisição das técnicas apropriadas e, finalmente, na progressão do treinamento apropriada, que permita o desenvolvimento das qualidades de aptidão desejada. O treinamento resistido sem supervisão deve ser evitado.
Os estudos eletromiográficos, tem mostrado o custo benefício de muitos exercícios realizados por esses atletas do treinamento com pesos, provando se as angulações de bancos, pegadas nas barras, posição dos pés, etc, enfatiza ou não enfatiza, isola ou não isola, recruta ou não recruta, mais aquele segmento muscular que esta sendo solicitado naquele movimento especifico .

BUSCHE K. Neurologic Disorders Associated with Weight Lifting and Bodybuilding. Phys Med Rehabil Clin N Am 20 (2009) 273–286

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Mudanças na proporção da ativação dos músculos posteriores da coxa durante exercícios para os membros inferiores.

O exercício é uma ferramenta eficaz no tratamento de doenças e na prevenção de lesões músculo-esqueléticas. Para prevenção de determinadas condições e no tratamento de indivíduos com osteoartrite de joelho, tem-se demonstrado que o exercício de formas específicas pode ser mais vantajoso e benéfico em relação a outros exercícios.
Pessoas com osteoartrite no compartimento medial do joelho demonstraram uma atividade dos posteriores de coxa laterais (bíceps femurais) aumentada e uma atividade diminuída da porção medial (semitendinoso e semimembranoso) dos posteriores de coxa durante a marcha quando comparados a indivíduos saudáveis (grupo controle). Essa pode ser uma tentativa de diminuir a sobrecarga sob o compartimento acometido (doente) e controlar (nesse caso, reduzir) o momento de adução externa do joelho (varo) por meio da manipulação da ativação dos posteriores de coxa para produzir um momento de contraposição à abdução da musculatura interna do joelho (valgo).
Desde que o torque produzido pelas porções medial e lateral dos posteriores de coxa pode desempenhar um papel na atenuação da carga no plano frontal, a habilidade desses músculos em produzir torque torna-se importante.
A capacidade das porções medial e lateral dos posteriores de coxa para gerar torque pode não ser igual. Uma razão é que o braço de momento (braço de torque) (moment arm) da porção lateral dos posteriores de coxa é aproximadamente metade daquela apresentada pela porção medial. Uma segunda razão relaciona-se à habilidade dos músculos posteriores da coxa de produzirem força. A área transversal fisiológica da porção medial dos posteriores da coxa (semitendinoso e semimembranoso) foi documentada como 23.83 cm2, enquanto que foi reportada 13.04 cm2 para a porção lateral (bíceps femural- cabeça longa e curta). Parece que há um desequilíbrio inerente favorecendo os posteriores da coxa mediais.
Enquanto que muito do stress sob o compartimento medial do joelho ocorre devido à carga axial do corpo, o desequilíbrio sugerido no balanço do torque produzindo potencial entre os posteriores da coxa mediais e laterais pode ser outro fator que explica o porquê que a osteoartrite no compartimento medial do joelho é mais comum na população do que a doença do compartimento lateral do joelho. Se o momento da adução é um fator de risco para o desenvolvimento e a progressão da osteoartrite de joelho, então o controle desse momento seria importante na contraposição do impacto da Osteoartrite de joelho. Os posteriores laterais da coxa enfraquecidos são incapazes de produzir um intenso momento de contrabalanço da abdução, o que poderia auxiliar na diminuição da sobrecarga no compartimento medial e reduzir o dano que pode ser gerado com um momento de adução excessivo.
Uma função muscular adequada ocorre quando as tarefas posturais e de movimentação requisitadas são praticadas de modo bem coordenado, de maneira que não haja adaptações negativas no sistema musculoesquelético (lesão muscular ou ruptura da cartilagem). Uma maneira de contrapor o desequilíbrio mecânico proposto entre os posteriores mediais e laterais da coxa e evitar essas adaptações negativas seria a designação de exercícios que ativassem preferencialmente os posteriores laterais da coxa. Desde que os posteriores laterais da coxa contribuem para a rotação externa da tíbia e os posteriores mediais da coxa contribuem para a rotação interna da tíbia, talvez a rotação interna e externa do pé durante os exercícios padrão para os posteriores da coxa possam ser capazes de ativar seletivamente os posteriores mediais e laterais, respectivamente. Os registros eletromiográficos (EMG) muscular mostram que os posteriores mediais e laterais podem ser preferencialmente recrutados utilizando a rotação tibial. Estudos mostram que durante os exercícios para os posteriores da coxa, a rotação externa dos pés modifica a proporção de ativação muscular medial-lateral para favorecer os posteriores laterais da coxa; e a rotação interna modifica a proporção para favorecer os posteriores mediais da coxa.
Por meio da prática dos exercícios para os posteriores da coxa com os pés em uma posição rodada externamente, poder-se-ia aumentar a capacidade de produção de força dos posteriores laterais mais do que os posteriores mediais, o que poderia ajudar a ultrapassar o menor braço (momento de força) e áreas de secção transversal da musculatura lateral. Uma modificação no momento balanço tem implicações no auxílio da mudança do stress sob o compartimento medial do joelho por meio da produção de um momento de valgo interno do joelho com os posteriores da coxa.
Outra utilização potencial para a alteração da proporção de ativação médio-lateral dos posteriores da coxa durante exercícios para membros inferiores seria na reabilitação e prevenção de lesões dos posteriores da coxa em populações de atletas. Desde que em populações de atletas a prevalência de lesões nos posteriores laterais (bíceps femurais) é muito maior que nos posteriores mediais, essa propensão de lesão dos posteriores laterais pode também ser beneficiada por meio da prática de exercícios para os posteriores da coxa com os pés rodados externamente para focar os posteriores laterais e reduzir potencialmente o desequilíbrio medial-lateral dos posteriores da coxa proposto.
Estudos demonstram a possibilidade de ativação seletiva dos músculos mediais e laterais dos posteriores da coxa durante os exercícios padrão para membros inferiores por meio da modificação da rotação dos pés. Entretanto, ainda não se sabe se isso poderia ser utilizado como uma ferramenta útil no tratamento dos sintomas da osteoartrite de joelho, na redução da degradação da cartilagem e no tratamentoe na prevenção da lesão dos posteriores da coxa. É possível que a prática de exercícios com alterações no posicionamento dos pés possa reduzir o desequilíbrio na força dos posteriores da coxa, e também possa auxiliar na modificação dos padrões de movimento (estratégias de ativação muscular), permitindo que as pessoas tenham um maior controle motor sob a ativação dos posteriores mediais/laterais durante a deambulação (caminhada). O efeito geral desse tipo de programa de treinamento é difícil de ser previsto e necessitaria mais estudos para a determinação de sua utilidade clínica. Estudos longitudinais seriam necessários para confirmar se a ativação seletiva dos músculos dos posteriores durante os exercícios poderia, de fato, ser uma intervenção eficaz na prevenção e no tratamento das lesões músculo esqueléticas e nas doenças degenerativas.









LYNN S.K., COSTIGAN P.A. Changes in the medial–lateral hamstring activation ratio with foot rotation during lower limb exercise. Journal of Electromyography and Kinesiology 19 (2009) e197–e205

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Treinamento resistido e a marcha funcional em pacientes com doença de Parkinson

A doença de Parkinson (DP) é uma doença que afeta o sistema nervoso central e se manifesta, geralmente por anomalias na conduta muscular, e que afeta 1 em cada 100 pessoas, normalmente com mais de 50 anos; é a segunda doença neurodegenerativa mais comum. Os sintomas primários em pacientes com DP incluem tremor grosseiro dos dedos ou em outros músculos dos membros inferiores quando em repouso, rigidez na postura, bradicinesia, reflexos posturais prejudicados e distúrbios de marcha associados. A maior complicação resultante dos sintomas são as lesões físicas geralmente resultantes do aumento da freqüência de quedas. Lesões associadas às quedas tais como as fraturas de quadril acabam resultando em internação e conseqüentemente em aumento da mortalidade. A progressão dos sintomas em pacientes com DP está também associada com a deterioração na condição física. Pessoas idosas com ou sem DP são caracterizadas pela pobreza de movimento, perda força e resistência muscular, e pela diminuição da capacidade funcional. A fraqueza pode surgir de vários fatores associados com a doença incluindo a inatividade resultante da incapacidade, assim como as modificações eletrofisiológica na ativação muscular na descarga padrão de unidades musculares durante a ativação e coativação de grupos musculares. Tipicamente, quando esses pacientes passam a apresentar uma diminuição na coordenação, muitos deles preferem restringir suas atividades justamente pelo perigo de lesões. Esta restrição de atividade resulta em atrofia muscular semelhante à condição de indivíduos idosos sedentários. O treinamento resistido é conhecido como um componente benéfico de um programa de exercícios designado para aumentar a força muscular e a capacidade funcional de adultos idosos e indivíduos que apresentam o mesmo quadro resultante de doença ou de incapacidade como artrite. Esta perda de força muscular e de massa muscular poderia ser esperada como uma forma de degradação fisiológica, apesar da efetividade do tratamento farmacológico. Essa técnica pode também ser mantida facilmente pelo paciente e pode ser eficaz para a manutenção dos exercícios. A marcha Parkinsoniana, a qual é característica da doença é descrita como festina, com diminuição dos passos largos, moderada diminuição da cadência e acima de tudo, da velocidade de movimento, e distúrbios associados na amplitude do movimento. É geralmente aceito que o treinamento de força melhora a marcha embora poucas medidas quantitativas tenham sido obtidas para mostrar que o treino de força melhora a marcha em pacientes portadores de DP. O objetivo desse estudo foi de determinar se o protocolo de treinamento de resistência poderia produzir aumentos de força no melhoramento funcional da marcha em pacientes com DP. Quatorze pacientes sedentários, portadores com DP (estágios 2-3), com média de idade 65.5 anos participaram desse estudo. Seis pacientes normais (sem doença de Parkinson) participaram como controle. Os 20 indivíduos foram submetidos ao treinamento resistido vigoroso (o peso inicial foi de 60% 1RM) por 8 semanas. Treinavam 2 vezes por semana sob supervisão qualificada. Os exercícios estavam visando predominantemente os membros inferiores. Eles incluíram o leg press, a flexão joelho, a extensão da perna, o trabalho da panturrilha e os abdominais tradicionais crunch. Uma análise computadorizada da marcha foi realizada no início e no final do estudo por um programa tridimensional. Com o treinamento, os pacientes portadores de DP mostraram aumentos significativos nos comprimentos dos passos. O treinamento resistido promoveu um pequeno, mas consistente aumento no ângulo postural da cabeça relativo ao chão, durante a marcha do grupo dos portadores de DP. Os pacientes com DP os quais apresentam incapacidades e sintomas mais severos podem ser esperados a apresentar uma performance inicial mais precária e um ganho menor quando comparados à performance dos indivíduos normais, porque os pacientes portadores de sintomas mais severos apresentassem uma performance inicial mais prejudicada em relação aos indivíduos controle, pelo fato da doença contribuir para uma atrofia por desuso. Foi encontrado que os pacientes portadores da doença podem conseguir ganhos na performance do treinamento resistido semelhantes aqueles do grupo controle e que este tipo de condicionamento pode ser benéfico como sendo parte de uma estratégia de reabilitação física e de uma manutenção física. Os ganhos na performance dos portadores de DP foram associados aos aumentos significativos dos elementos quantitativos da marcha incluindo o comprimento do passo e modestos aumentos no pico de velocidade do movimento, principalmente na rede de velocidade do movimento durante a marcha (exemplo a velocidade do ombro e do quadril). A dificuldade com a musculatura proximal é uma característica da DP e pode estar associada com uma assimetria da postura, com a dificuldade na transição dos movimentos quando a doença é bem acentuada unilateralmente. Assim, a correção da fraqueza abdominal pode ser de extrema importância para os protocolos tratamento físico para essa população de pacientes. Resumindo, nós demonstramos que os pacientes portadores de DP entre os níveis médio e moderado podem obter um ganho de força similar ao dos idosos normais a partir de um treinamento resistido. Este ganho de força está associado com aumentos quantitativos significativos na marcha. Nós concluímos que os portadores de DP entre níveis médio e moderado podem se beneficiar de maneira favorável com o treinamento resistido e que este treinamento deve ser incluído como parte de um programa de reabilitação com outras técnicas terapêuticas as quais tem sido mostrada como forma de se promover uma melhora da velocidade em pacientes portadores de DP. O treinamento resistido pode melhorar a qualidade de vida em pacientes portadores de DP, pois melhora o equilíbrio, ajuda na locomoção, fortalece os músculos específicos do treinamento, melhora ainda o estado emocional dos pacientes por melhora sua auto-estima e ao dar-lhes uma sensação de segurança, e conseguir diminuir sua dependência funcional ou até mesmo conseguir sua independência total.
Referência bibliográfica Scandalis TA, Berliner JC, Helman ll, Wells MR; Resistance training and gait function in patients with Parkinson's disease. Am J Phys Med Rehabil 80:38-43; 2001

terça-feira, 1 de junho de 2010

MECANISMOS DE LESÃO ACIDENTAIS VERSUS NÃO-ACIDENTAIS RELACIONADAS AO “LEVANTAMENTO DE PESO” EM JOVENS VERSUS ADULTOS



Com base em análise das lesões relacionadas ao treinamento resistido que resultaram em visitas aos centros de emergência dos EUA, parece que as crianças apresentam um menor risco de entorses articulares e estiramentos musculares relacionadas ao treinamento resistido quando comparadas aos adultos. A maioria das lesões relacionadas ao treinamento resistido em crianças que ocorreram em estudo foi resultante de acidentes que poderiam potencialmente ter sido prevenidos com o aumento da supervisão e o cumprimento estrito das diretrizes de segurança. As evidências acumuladas ao longo da última década têm esclarecido o risco relativo de lesão relacionada ao treinamento resistido comparado com outras formas de participação em atividades esportivas. O treinamento resistido que incorpora a instrução adequada das técnicas é aceito como um modelo de exercício seguro e eficaz para pré adolescentes e crianças adolescentes pela maioria das comunidades médicas, incluindo a Academia Americana de Médicos da Família (AAFP), a Academia Americana de Cirurgiões Ortopedistas (AAOS), o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), a Sociedade Médica Americana para a Medicina do Esporte (AMSSM), a Sociedade Ortopédica Americana para a Medicina do Esporte (AOSSM), a Academia Americana Osteopática de Medicina do Esporte (AOASM), a Associação Nacional de Força e Condicionamento (NSCA), a Academia Americana de Pediatria (AAP) e o Conselho Presidente de Aptidão Física e Esporte.
Em adição ao aumento das evidências acerca da segurança do treinamento resistido supervisionado em atletas jovens e adolescentes, há evidências que o treinamento resistido possa reduzir a incidência de lesões nos esportes. Essa evidência é baseada nas adaptações benéficas que ocorrem nos ossos, ligamentos e tendões após o treinamento e possui sustentação por documentações baseadas em estudos epidemiológicos.
Os efeitos positivos de um programa de treinamento resistido no aumento da força em adultos têm sido amplamente documentados na literatura. As melhorias na força alcançadas com o treinamento resistido ocorrem por meio da hipertrofia muscular (aumentos na área de secção transversal), mudanças estruturais na fibra muscular (modificações no ângulo de penação), e no sistema neuromuscular (aumento da sincronização e recrutamento das unidades motoras, o que origina o aumento da força em crianças e adolescentes), bem como adaptações metabólicas (suprimento energético melhorado).
Os benefícios do treinamento resistido agora são considerados maiores do que aqueles atribuídos ao crescimento normal e desenvolvimento em crianças e adolescentes. Pesquisadores, listaram os benefícios potenciais do treinamento resistido em atletas jovens que variam do aumento da força muscular até o melhoramento da saúde mental, bem como a estimulação de uma atitude positiva que possa fazer do treinamento resistido uma atividade por toda a vida.
A maturidade física e o tamanho, que podem limitar a utilização de certas máquinas voltadas para o treinamento resistido, não devem ser fatores que limitem a participação em programas de treinamento resistido desenvolvidos e supervisionados. Pesquisadores ainda, demonstraram que, com uma supervisão adequada, as crianças podem ser testadas com segurança e treinadas mesmo com a aplicação de esforços máximos (resistências máximas). Em geral, se os jovens manterem uma maturidade emocional suficiente para aceitarem e seguirem as orientações, então eles estarão prontos para o treinamento de força. Se forem incapazes de seguir a supervisão, então a participação deve ser limitada. Todas as crianças e adolescentes devem ser supervisionados de perto e serem providos com feedbacks competentes e consistentes sobre seu desempenho nos exercícios. Embora as lesões durante o treinamento resistido sejam menos freqüentes do que no desempenho esportivo de fato, elas podem acontecer e devem ser relacionadas ao nível de maturidade. Estudo indica que dois terços das lesões prolongadas em pacientes jovens ocorreram nas mãos e nos pés e foram freqüentemente mais relacionadas a “quedas” (derrubar o peso) e por “preensão” (prender, esmagar) na descrição das lesões. Uma atenção adequada na instrução das maneiras de como se comportar na sala de musculação e também durante a utilização dos equipamentos, conjuntamente com as precauções para prevenir brincadeiras e atenção acerca de como manusear adequadamente objetos pesados na sala de musculação, podem limitar o risco de lesões acidentais na sala de musculação.
Para reduzir a ocorrência de lesões não acidentais em crianças e adolescentes, uma ênfase deve ser colocada na utilização segura dos equipamentos e a técnica correta de praticar os exercícios. Se for permitido ao atleta praticar as manobras referentes ao exercício da forma incorreta com cargas baixas, então o risco de lesão será ampliado com o aumento das cargas. Para melhorar a técnica dos exercícios, os instrutores devem fornecer feedbacks contínuos e imediatos ao atleta jovem, tanto durante a sessão quanto após cada sessão de exercícios). Isso permitirá então que se conscientizem acerca da forma e técnica adequada de execução, bem como as posições indesejáveis e potencialmente perigosas. Adicionalmente, o feedback visual (retorno da informação visual) pode ser útil para fazer com que o jovem atleta fique consciente da prática das técnicas do exercício por meio da identificação visual da biomecânica inadequada. Os instrutores podem utilizar espelhos ou equipamentos de vídeo para auxiliar no fornecimento de um feedback visual. Um feedback visual e verbal pode auxiliar os jovens atletas para combinarem o desempenho de suas técnicas percebidas para suas verdadeiras técnicas. Acima dos benefícios óbvios de uma supervisão adequada na redução no risco de lesão na sala de musculação, uma supervisão direta aumenta a eficácia do treinamento resistido.

Aplicações Práticas
Se adequadamente supervisionado, o treinamento resistido pode ser seguro e eficaz e pode também facilitar na redução do risco para lesão durante a participação em atividades esportivas. O programa de treinamento resistido para crianças mais novas deve focar principalmente na segurança da utilização dos equipamentos para evitar lesões acidentais, na aquisição das técnicas apropriadas do treinamento resistido e, finalmente, na progressão do treinamento apropriada, que permita o desenvolvimento da força e da potência. O treinamento resistido sem supervisão deve ser evitado tanto em pré adolescentes quanto em adolescentes.

MYER, GD, QUATMAN, CE, KHOURY, J, WALL, EJ E HEWETT, TE Youth versus Adult WEIGHTLIFITING Injuries presenting to United States emergency Room: Accidental Versus Nonaccidental Injury Mechanisms. J Strength Cond Res 23(7): 2054-2060, 2009

Análise da percepção de lesões em academias de ginástica

A conscientização da importância de assegurar-se a qualidade de vida vem provocando mudanças no estilo de vida das pessoas, o qual tende a ser mais ativo, por meio da adesão às atividades físicas. Estudos mostram que a atividade física promove benefícios imediatos (regularização dos níveis de glicose sanguínea, de adrenalina e noradrenalina, assim como da quantidade e qualidade do sono) e a longo prazo (melhora do funcionamento cardiovascular, flexibilidade, resistência, potência e força muscular, equilíbrio, coordenação e velocidade de movimento). Além disso, existem evidências quanto à diminuição da incidência de doenças músculo-esqueléticas, cardiovasculares, metabólicas e da taxa de mortalidade na população e aumento do bem-estar subjetivo.

Os efeitos da atividade física são dependentes de algumas variáveis como intensidade, duração, freqüência e tipo de atividade realizada. Dessa forma, mudanças nessas variáveis podem levar a alterações positivas ou negativas no organismo). Sabe-se que a população que pratica algum tipo de atividade física, quer no sentido competitivo ou recreativo, apresenta-se exposta a acidentes decorrentes dessa prática denominados lesões esportivas. O termo lesão é definido como qualquer alteração tecidual que resulte em dor ou desconforto, sendo que o sistema músculo-esquelético é citado como o mais freqüentemente acometido.

A literatura mostra que idade, sexo, condição física do participante, assim como a especificidade da atividade esportiva pode contribuir para uma maior incidência e severidade dessas lesões.

Após os anos 70, o surgimento das academias de ginástica tem sido considerado um dos maiores fenômenos sociais em todo o mundo. Inicialmente, as atividades físicas realizadas em academias eram procuradas com objetivo principalmente estético. Este objetivo ampliou-se na atualidade, destacando-se a busca por condicionamento físico e promoção de saúde, modificando a realidade nas academias. Além da diversidade de aulas individuais e em grupo, são encontrados inúmeros e sofisticados aparelhos de musculação. Atualmente, a musculação é praticada no sentido competitivo, recreacional e como parte do treinamento de atletas de outras modalidades. Entretanto essa atividade esportiva pode causar lesões músculo-esqueléticas importantes. Algumas pesquisas sugerem que o treinamento excessivo, o uso impróprio das técnicas de treinamento, ou a combinação de ambos, além de outros fatores, podem ser causas dessas lesões nos praticantes dessa modalidade esportiva. Alguns estudos apontam a falta de supervisão na realização de exercícios como possível causa de lesão na prática da musculação.
Os resultados de estudo evidenciam que mais da metade dos alunos praticantes de atividade física em academias relataram a percepção de alguma lesão. Destes, 48% acreditavam que a lesão estava relacionada às atividades realizadas na academia. Pesquisadores, constataram que mais da metade dos alunos relataram dores resultantes da prática da musculação e relacionaram-nas unicamente à modalidade esportiva em questão. No estudo com adolescentes praticantes de musculação, foi encontrada uma incidência de 39% de lesão.

A idade dos alunos das academias apresentou grande variabilidade (18 a 69 anos). Este dado chama a atenção para a presença de pessoas mais velhas na academia. Isso pode estar relacionado ao fato de que os benefícios da atividade física regular, durante o processo de envelhecimento, vêm sendo amplamente divulgados.

Em relação à localização da lesão, o joelho foi o segmento corporal mais freqüentemente citado, seguido por ombro e coluna. No estudo realizado por pesquisadores, o ombro foi o segmento mais acometido na prática da musculação, seguido por coluna e cotovelo. Um outro pesquisador, comparando diversos estudos, verificaram uma maior incidência de lesões na coluna em relação a outros segmentos corporais entre praticantes de musculação. Os tipos de lesões associados com a prática da musculação mais encontrados foram tendinite de supraespinhoso, instabilidade anterior de ombro, espondilolistese, osteoartrite patelofemoral e tíbiofemoral.

Pesquisadores, analisando desconfortos musculoesqueléticos percebidos pela população em geral, verificou uma maior freqüência destes em pessoas mais velhas. Em um estudo sobre a prevalência de problemas articulares foi encontrado um aumento da freqüência destes com a idade.

A partir dos resultados de estudos, nota-se que a percepção de lesões osteomusculares por praticantes de atividade física não é um evento raro. Não obstante a dimensão do problema, grande parte dos alunos (48%) que frequentam academias de ginástica acreditam que tais lesões estão relacionadas aos exercícios realizados na academia. Torna-se relevante, portanto, alertar a população e os profissionais da área desportiva sobre a importância de se praticar atividade física com segurança a fim de alcançar um nível de treinamento satisfatório e com qualidade.

Para que se obtenha os efeitos desejáveis do treinamento físico, é primordial que este seja conduzido em intensidade e duração adequados. Aliado a isso, a frequência elevada de lesões osteomusculares percebidas ressaltam a importância da presença de um profissional qualificado no local. Educadores físicos, fisioterapeutas e proprietários de academias devem estar atentos à possível ocorrência de lesões seguidas ao exercício físico, para que estratégias de intervenção e prevenção sejam desenvolvidas. Por fim,
acrescente-se a essas ações, a necessidade de conscientizar os alunos a cerca dos riscos existentes durante o treinamento e orientá-los para a identificação precoce de sinais ou sintomas que possam ameaçar a sua saúde, buscando com isso minimizar a ocorrência de lesões e garantir melhor qualidade de vida.

ROLLA, A. F. L., ZIBAOUI, N., SAMPAIO, R. F., VIANA, S. O. Análise da percepção de lesões em academinas de ginástica de Belo Horizonte: um estudo exploratório. R. bras. Ci.e Mov. 2004; 12(2): 7-12.