terça-feira, 1 de junho de 2010

Análise da percepção de lesões em academias de ginástica

A conscientização da importância de assegurar-se a qualidade de vida vem provocando mudanças no estilo de vida das pessoas, o qual tende a ser mais ativo, por meio da adesão às atividades físicas. Estudos mostram que a atividade física promove benefícios imediatos (regularização dos níveis de glicose sanguínea, de adrenalina e noradrenalina, assim como da quantidade e qualidade do sono) e a longo prazo (melhora do funcionamento cardiovascular, flexibilidade, resistência, potência e força muscular, equilíbrio, coordenação e velocidade de movimento). Além disso, existem evidências quanto à diminuição da incidência de doenças músculo-esqueléticas, cardiovasculares, metabólicas e da taxa de mortalidade na população e aumento do bem-estar subjetivo.

Os efeitos da atividade física são dependentes de algumas variáveis como intensidade, duração, freqüência e tipo de atividade realizada. Dessa forma, mudanças nessas variáveis podem levar a alterações positivas ou negativas no organismo). Sabe-se que a população que pratica algum tipo de atividade física, quer no sentido competitivo ou recreativo, apresenta-se exposta a acidentes decorrentes dessa prática denominados lesões esportivas. O termo lesão é definido como qualquer alteração tecidual que resulte em dor ou desconforto, sendo que o sistema músculo-esquelético é citado como o mais freqüentemente acometido.

A literatura mostra que idade, sexo, condição física do participante, assim como a especificidade da atividade esportiva pode contribuir para uma maior incidência e severidade dessas lesões.

Após os anos 70, o surgimento das academias de ginástica tem sido considerado um dos maiores fenômenos sociais em todo o mundo. Inicialmente, as atividades físicas realizadas em academias eram procuradas com objetivo principalmente estético. Este objetivo ampliou-se na atualidade, destacando-se a busca por condicionamento físico e promoção de saúde, modificando a realidade nas academias. Além da diversidade de aulas individuais e em grupo, são encontrados inúmeros e sofisticados aparelhos de musculação. Atualmente, a musculação é praticada no sentido competitivo, recreacional e como parte do treinamento de atletas de outras modalidades. Entretanto essa atividade esportiva pode causar lesões músculo-esqueléticas importantes. Algumas pesquisas sugerem que o treinamento excessivo, o uso impróprio das técnicas de treinamento, ou a combinação de ambos, além de outros fatores, podem ser causas dessas lesões nos praticantes dessa modalidade esportiva. Alguns estudos apontam a falta de supervisão na realização de exercícios como possível causa de lesão na prática da musculação.
Os resultados de estudo evidenciam que mais da metade dos alunos praticantes de atividade física em academias relataram a percepção de alguma lesão. Destes, 48% acreditavam que a lesão estava relacionada às atividades realizadas na academia. Pesquisadores, constataram que mais da metade dos alunos relataram dores resultantes da prática da musculação e relacionaram-nas unicamente à modalidade esportiva em questão. No estudo com adolescentes praticantes de musculação, foi encontrada uma incidência de 39% de lesão.

A idade dos alunos das academias apresentou grande variabilidade (18 a 69 anos). Este dado chama a atenção para a presença de pessoas mais velhas na academia. Isso pode estar relacionado ao fato de que os benefícios da atividade física regular, durante o processo de envelhecimento, vêm sendo amplamente divulgados.

Em relação à localização da lesão, o joelho foi o segmento corporal mais freqüentemente citado, seguido por ombro e coluna. No estudo realizado por pesquisadores, o ombro foi o segmento mais acometido na prática da musculação, seguido por coluna e cotovelo. Um outro pesquisador, comparando diversos estudos, verificaram uma maior incidência de lesões na coluna em relação a outros segmentos corporais entre praticantes de musculação. Os tipos de lesões associados com a prática da musculação mais encontrados foram tendinite de supraespinhoso, instabilidade anterior de ombro, espondilolistese, osteoartrite patelofemoral e tíbiofemoral.

Pesquisadores, analisando desconfortos musculoesqueléticos percebidos pela população em geral, verificou uma maior freqüência destes em pessoas mais velhas. Em um estudo sobre a prevalência de problemas articulares foi encontrado um aumento da freqüência destes com a idade.

A partir dos resultados de estudos, nota-se que a percepção de lesões osteomusculares por praticantes de atividade física não é um evento raro. Não obstante a dimensão do problema, grande parte dos alunos (48%) que frequentam academias de ginástica acreditam que tais lesões estão relacionadas aos exercícios realizados na academia. Torna-se relevante, portanto, alertar a população e os profissionais da área desportiva sobre a importância de se praticar atividade física com segurança a fim de alcançar um nível de treinamento satisfatório e com qualidade.

Para que se obtenha os efeitos desejáveis do treinamento físico, é primordial que este seja conduzido em intensidade e duração adequados. Aliado a isso, a frequência elevada de lesões osteomusculares percebidas ressaltam a importância da presença de um profissional qualificado no local. Educadores físicos, fisioterapeutas e proprietários de academias devem estar atentos à possível ocorrência de lesões seguidas ao exercício físico, para que estratégias de intervenção e prevenção sejam desenvolvidas. Por fim,
acrescente-se a essas ações, a necessidade de conscientizar os alunos a cerca dos riscos existentes durante o treinamento e orientá-los para a identificação precoce de sinais ou sintomas que possam ameaçar a sua saúde, buscando com isso minimizar a ocorrência de lesões e garantir melhor qualidade de vida.

ROLLA, A. F. L., ZIBAOUI, N., SAMPAIO, R. F., VIANA, S. O. Análise da percepção de lesões em academinas de ginástica de Belo Horizonte: um estudo exploratório. R. bras. Ci.e Mov. 2004; 12(2): 7-12.

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