domingo, 16 de novembro de 2008

Puxada alta, qual a melhor e mais segura das pegadas??




O ato de puxar os braços para baixo pelos lados vindos de uma posição próxima ao alto da cabeça (ou levantando o corpo quando os braços estão seguros na altura da cabeça como nas barras) não tem um papel mais importante no dia-a-dia. Mas para muitos dos esportes, esse movimento de braço é essencial. Muitos esportes contém movimentos que dependem de forma crucial dos músculos que fazem a adução da articulação do ombro. Somando a importância deles para movimentos em esportes específicos, o desenvolvimento desses músculos também é importante para promover equilíbrio funcional na região da articulação.(17)
De um ponto de vista funcional, as atividades do dia-a-dia não exigem puxar uma resistência atrás da cabeça. Mas é preciso puxar uma resistência para baixo muitas vezes na frente do corpo.(3, 6,11,17) Através da troca de um exercício não-funcional para um funcional o resultado seria menos lesão para o complexo do ombro e um aumento na produção do trabalho.(3,6,11,12,13,17) Portanto, os programas de treinamento resistido deveriam incluir exercícios que imita um movimento de puxar anterior e excluir aqueles que envolvem movimentos de puxada poterior.(3, 6, 11,17)
Em função da proposta de exercício puxada alta ser o desenvolvimento do aumento da força durante a adução, o que é de grande importância na prescrição da posição das mãos que provoca a maior atividade do músculo primariamente envolvido no movimento para baixo, denominado grande dorsal.(17)
Muitos exercícios podem ser descritos para o desenvolvimento da força dos músculos adutores dos ombros, um desses exercícios é a puxada alta anterior.(17) Que tradicionalmente, pode ser executado de duas formas diferentes: com a barra sendo puxada adiante do corpo ou por trás do corpo.(2) Muitas variações desse exercício são executadas nas salas de treinamento com pesos, que normalmente envolvem mudanças na posição das mãos e na amplitude de movimento. Muitos artigos em ambas as literaturas (publicações científicas e na literatura popular) tem oferecido diferentes opiniões sobre as melhores posições das mãos e da barra para ativar o grande dorsal durante a execução do exercício puxada alta.(17)
O National Strength and Condicionation Research apresentou opiniões de seus membros em relação a melhor maneira de execução do exercício puxada por trás. Concluiu-se que 150 profissionais apresentavam maior favorecimento à execução do exercício por trás, mas a grande maioria (903 membros) optou pela execução da puxada pela frente.(11,12, 6, 17)
Trabalhos trazem à tona evidências que levaram os autores a identificar diferenças no padrão de movimento, entre uma e outra forma de execução, que podem determinar diferenças, também, em suas capacidades de induzir lesões no sistema músculo-esquelético.(3, 5, 6, 8, 9, 17, 11,12)
Só recentemente a segurança e a eficácia do exercício puxada alta posterior tornou-se quase por unanimidade questionável.(3, 5, 6, 8, 9, 17, 11, 12) Apesar do fato de que um número crescente de profissionais do fitness estão cientes do perigo do exercício puxada alta posterior, entusiastas do fitness que se dedicam ao treinamento resistido estão a maior parte, ainda inconsciente da impraticabilidade desse exercício e ainda pode ser visto realizando-o em várias academias.(3)

Mecanismo de lesão
Existem vários exercícios que são realizados dentro das academias que podem estar sendo precursores de grande risco de lesões um desses exercícios supostamente prejudicial, é a puxada alta posterior, que atualmente é um dos exercícios questionados(6) A puxada alta posterior é freqüentemente executado com pouca técnica, pois, a barra é puxada balisticamente em direção ao corpo indo de encontro aos processos espinhosos (11), e devolvida à posição inicial(3,11) com uma falta de controle excêntrico.(3,11) A puxada alta posterior requer a flexão da coluna cervical e do tronco(3,6,11) durante a fase concêntrica do exercício para acomodar a barra atrás da cabeça. Como resultado, os três planos de movimento ocorrem simultaneamente na articulação glenoumeral: adução, rotação externa e hiper-abdução horizontal (abdução horizontal posterior para o plano frontal). Essa situação coloca a força sobre a cabeça do úmero incentivando o deslocamento anterior e inferior fora da cápsula articular.(3,11)
Colocar a extremidade superior em concomitante abdução e rotação externa (posição “de-risco”)(3,11,5,6) acrescenta estresse no ligamento glenoumeral inferior(3, 5, 6, 8,9,11) o qual é o principal estabilizador estático da articulação glenoumeral.(3) Os movimentos de musculação puxada alta posterior, freqüentemente envolve esta posição de risco(3, 5, 6,11) e a adição de mais peso ao braço da alavanca estendido, e ainda envolve repetição até a fadiga muscular,(3,5,6,11) juntos, estes fatores podem levar a lesão(3, 5, 6,11) por uso excessivo(3, 6, 11) Com o excesso de uso e a irritação repetitiva ao longo do tempo, a maioria dos tecidos vão responder com inflamação e inchaço.(3, 11,12)
Existem outras razões para lesão incluindo o processo degenerativo da articulação, técnica inadequada no levantamento e o modo do treinamento (bodybuilding e powerlifting). (3)
Pesquisadores, afirmam que os profissionais de educação física que atuam na área de treinamento de força devem usar exercícios para cintura escapular e exercícios para fortalecimento do manguito rotador, pois são muito importantes antes da realização da puxada por trás. Diminuindo assim o risco da Síndrome do impacto de ombro, evitando assim lesões pela puxada por trás.(6)

Respostas Eletromiográficas
Estudos eletromiográficos indicam que o exercício puxada alta anterior produziu maior atividade elétrica no grande dorsal e redondo maior do que qualquer outra posição(6, 13, 17,20) pegada fechada, pegada supinada, puxada alta posterior.(17) O músculo redondo maior tem papel de auxiliar o grande dorsal em aduzir e estender o úmero.(17)
O aumento da atividade do grande dorsal e do redondo menor produzida pelas 2 posições de puxada alta anterior e posterior pode ser devido a maior tensão colocada no músculo por causa do seu aumento de extensão a medida que o úmero é abduzido.(17)
As funções maiores do peitoral maior são adução horizontal, a rotação interna, a adução, a flexão do úmero. A medida que o úmero foi mais abduzido (puxada supinada < puxada alta anterior < puxada alta posterior) o nível da atividade do peitoral maior foi reduzido(2,17) Para o peitoral maior a atividade elétrica foi maior para a condição puxada fechada(2, 17) seguida pelas condições puxada supinada, puxada alta anterior e puxada alta posterior.
O deltóide posterior tem sua função mais importante, o movimento do braço estendido posteriormente, abdução horizontal e rotação externa e os trabalhos com as fibras anteriores e mediais para mover o braço lateralmente distanciando-se do corpo. A posição pegada fechada, a qual usa a rotação interna e a adução horizontal, desenvolveu o nível mais alto de atividade elétrica neste músculo em todas as posições das mãos testadas. Esse maior nível de atividade muscular poderia ser atribuído ao fato do músculo estar na sua maior extensão e por isso estar sob sua maior tensão sob essa condição.(17)
A puxada alta anterior produziu os níveis mais altos de atividade elétrica na cabeça longa do tríceps(2, 17) se comparada com a puxada supinada e puxada fechada mas a atividade não foi significativamente maior do que puxada alta posterior.(17)
Um outro estudo sugere, que a atividade elétrica de quatro músculos (bíceps, tríceps, grande dorsal e peitoral) foi similar entre os exercícios puxada alta anterior e posterior.(2) e o músculo trapézio apresentou maior atividade elétrica no exercício puxada alta posterior(2, 17) inferior e rombóides à custa da atividade do grande dorsal.(17)

Execução do movimento
O exercício puxada alta tem muitas aplicações específicas para esportes, mas deve ser realizado em uma posição modificada. (5) O ajuste do assento para o exercício puxada alta dita à postura assumida por todo o corpo.(3, 6, 11) A posição modificada no exercício puxada alta anterior, começa com o indivíduo sentado (2, 5,13,16) com os joelhos flexionados formando um ângulo de 90º graus (4, 5) entre quadris e joelhos,(4) estando as coxas fixadas no anteparo padrão do aparelho situado à frente do corpo.(3, 6 13) O tronco inclinado em 30° de extensão de tronco,(5) com os ombros abduzidos e elevados acima da cabeça (2,16) ou do corpo (13) e os cotovelos completamente estendidos(13, 16), com as mãos segurando a barra (5) ou alavanca (16) a uma distância maior que a largura de seus ombros(4, 16) ou uma largura segura e confortável colocada por alguns autores de largura 1,5 a 2 vezes a biacromial.(1, 5) ou uma pegada aberta através da formação dos ângulos de 90º no cotovelo e nas articulações dos ombros. 3
Puxada alta e 1RM
Fatores como arco de movimentação, tempo de contração muscular para execução dos movimentos de 1RM, articulações nos quais os ângulos de testagem são verificados e se estes estão na posição inicial ou final de testagem, parecem, em conjunto, influenciar de maneira decisiva os escores de 1RM; portanto estes fatores devem ser considerados na técnica de execução dos exercícios. (13)
As cargas usadas durante o desempenho para as posições puxada alta anterior(17) pegada fechada(13, 17, 18) e pegada supinada são maiores do que aquela usada durante a posição da puxada alta posterior. Há uma tendência para o uso de cargas menores durante a execução com a posição da mão puxada alta posterior do que com outras posições. Esses dados indicam que o desempenho com a puxada anterior fornece algumas vantagens mecânicas, permitindo cargas maiores a serem movidas durante esses exercícios do que quando a puxada é posterior (17)
No exercício puxada alta anterior o movimento pode ser acelerado durante o arco de movimento até o final. Tal fato pode propiciar maior tração para uma mesma quilagem, já que maior velocidade de execução do movimento influencia nos escores de força (13)
Comparando a puxada alta anterior com puxada fechada, em relação à força de resistência muscular o melhor desempenho foi na pegada aberta.(18)

Conclusão
Conclui-se que os profissionais que trabalham com treinamento resistido progressivo devem prestar extrema atenção no posicionamento dos executantes em todos os exercícios e principalmente nos que possuem ângulos críticos na posição inicial e final do movimento, a fim de proporcionar maior segurança, na prescrição e monitoramento dos treinos. A utilização de diferentes técnicas de execução de exercícios resistidos com pesos deve ser analisada e aplicada com cuidado, principalmente se alterarem os ângulos articulares de trabalho.(13)
Diferentes posições de pegadas mudam o grau de rotação externa/interna, abdução/adução e abdução/adução horizontal em torno da articulação glenoumeral durante a execução do exercício puxada alta. Isto, por sua vez, afeta as contribuições relativas dos músculos envolvidos no desempenho do movimento puxada alta. A posição da pegada quando coloca o úmero em maior grau de abdução horizontal (puxada alta anterior e puxada alta posterior) aumenta a ênfase sobre o grande dorsal e redondo maior, visto que as posições aumentam o nível de adução horizontal (puxada fechada e puxada supinada) provocam mais EMG a partir do deltóide posterior e peitoral maior.(17)
Os resultados indicam que a puxada alta anteriormente recruta mais unidades motoras e, portanto exige mais trabalho do grande dorsal(17,20) e do tríceps(6, 17) do que qualquer outra das condições testadas. (17)
Entende-se que os resultados de estudo podem não ser exatamente os mesmos em testes de 1RM que sigam os mesmos exercícios analisados, porém executados em aparelhos de diferentes marcas; por não serem similares às constituições nos design, pode haver diferentes braços de alavancas gerando torques variados para uma mesma quilagem.(13)
Assumindo que a única diferença encontrada entre os exercícios foi na atividade do músculo trapézio para puxada alta posterior, podemos inferir que os exercícios são praticamente idênticos sobre o ponto de vista eletromiográfico. (2)
Por causa das suas conseqüências negativas serem superiores aos seus benefícios, o exercício puxada alta posterior coloca o complexo do ombro em risco e é recomendado que esse exercício seja substituído pelo exercício puxada alta anterior, o que é mais prático em função. Especificamente, os assistentes e supervisores da sala de peso deveriam ser discretos quando permitir que os indivíduos realizem esse exercício. Todo manual de personal training deveria enfatizar a explicação lógica para evitar o exercício puxada alta posterior. (3)
Como se sabe, a fadiga aumenta a atividade elétrica dos músculos, o que pode contribuir, sem dúvida alguma, para os dados obtidos em alguns estudos, sendo recomendado que mais estudos sejam realizados. (2)
Devido a maior segurança em sua realização com intuído de diminuir ao máximo os riscos de lesões, alguns pesquisadores dão preferência a utilização da puxada alta anterior em pesquisas que avaliam a força e potência e a resistência muscular.(1, 4, 13, 16, 18)
O que pode ser constatado atualmente é que os resultados são conflitantes quando se trata da puxada alta anterior e a puxada alta posterior com a pegada aberta. Muitas vezes a metodologia utilizada por diversos autores diferenciam nos resultados. (2)
Profissionais de educação física que atuam na área de treinamento de força devem usar discrição em permitir que indivíduos executem este tipo de exercício (puxada alta posterior). Todos os profissionais devem enfatizar a regra de evitar este movimento específico. A partir disto, recomenda-se que este exercício seja substituído pelo exercício puxada alta anterior, comportando-se de forma prática e funcional. A execução do exercício pela frente, além de apresentar maior segurança funcional, destaca-se pelo maior recrutamento de unidades motoras, conseqüentemente maior produção de força muscular. Ao substituir o exercício menos funcional pelo mais indicado, o resultado será menor índice de lesões para o complexo do ombro e maior rendimento no trabalho.(11) As conseqüências negativas sobrepõem seus benefícios, a puxada alta posterior coloca o complexo do ombro em risco. Sendo assim, é considerado um exercício pouco aceitável para a realização de um programa de treinamento benéfico .(6,11)


Referências Bibliográficas:

1 BARROS M.A.P, SPERANDEI S., JUNIOR P.C.S.S., OLIVEIRA C.G., Reprodubilidade no teste de uma repetição máxima no exercício puxada pela frente para homens Rer Brás Med Esporte 14(4) Jul/Ago. 2008

2 CARPENTER, C.S.C.; NOVAES, J.; BATISTA, L.A.; Comparação entre a puxada por trás e a puxada pela frente de acordo com a ativação eletromiográfica. Revista de Educação Física - Nº 136 - pág. 20-27 Março de 2007

3 CRATE T Analysis of the Lat Pulldown., The professional Journal of the National Strength & Conditioning Association 19(3):26-29

4 DIAS, I.; SIMÃO, R.; NOVAES, J. S. - Efeito das Dierentes Fases do Ciclo Menstrual em um Teste de 10RM. Fitness & Performance Journal, v. 4, n. 5, p. 288 - 292, 2005

5 FESS, M.; DECKER,T.; SNYDER-MACKER, L.; AXE, M.J. The American Journal of Sports Medicine, Vol.26, No.5; 732-742 1998

6 FONSECA; E.M.F.; MOTTA, A. CORDEIRO, E.M.; Exercício puxada por trás: uma revisão de literatura www.marombapura.com.br/artigos/artigo_puxada_tras.pdf pág 61-67

7 HALL S.J. Biomecânica Básica, Editora Guanabara Koogan S.A. pp 92-101 1993

8 HAMILL J. KNUTZEN K.M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano Ed. Manole 146-168 1999

9 KINZEY S; 20(2):76, National Strength & Conditioning Association 1998
10 McARDLE W.D., KATCH F.J., KATCH V.L. Fisiologia do Exercício Editora Guanabara Koogan 2003

11 MAIOR A. S.; Análise do exercício puxada por trás. www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 72 - Mayo de 2004

12 MAIOR A. S. SANTOS T.M.; Exercícios contra indicados no treinamentode força: fundamentação em evidências www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 85 - Junio de 2005

13 MOURA J.A.R, BORHER T., PRESTES M.T., ZINN J.L Influência de diferentes ângulos articulares obtidos na posição inicial do exercício pressão de pernas e final do exercício puxada frontal sobre os valores de 1RM. Rev Bras Med Esporte _ Vol. 10, Nº 4 – Jul/Ago, 2004

14 PIERCE K.C., Straight-arm lat pulldown and push up on balanceStrength and Conditioning Journal. 20(6):52-53 1998

15 RASCH P.J. Cinesiologia e Anatomia Aplicada Editora Guanabara Koogan S.A. Sétima Edição PP 81-92 1991

16 RIBEIRO F.M., NOVAES J.S., LEMOS A., SIMÃO R. Reprodutibilidade inter e intradias do Power Control em um teste de potência muscular Rev Bras Med Esporte _ Vol. 12, Nº 5 – Set/Out, 2006

17 SIGNORILE, J. E.; ZINK, A. J. and SZWED, S. P. A Comparative Electromyographical Investigation of Muscle Utilization Patterns Using Various Hand Positions During the Lat Pull-Down. Jornal of Strength and Condidtioning Research, 2002, 16(4), 539-546.

18 SILVA, L. P.; PUPO, J. D.; ALVES, J. V.; MOTA, C. B Effects of different handle techniques during the back pull exercise on the angular kinematic and production of strength. Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173

19 THOMPSON, C.W.; FLOYD, R.T. Manual de Cinesiologia Estrutural, 12 º edição Editora Manole Pg 87

20 WILLS, R SIGNORILE, A et al Differences in emg activity due to handgrip position during the latpulldown. Med. Sci.Sports Exerc. 26(5) s2o 1994








Prof.:Caco