quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O paradoxo do exercício: doses adequadas e benefícios, doses inadequadas e riscos.

Embora já esteja bem estabelecida e divulgada a importância da atividade física na prevenção de doenças, o sedentarismo ainda predomina em nossa população. Se, por um lado, a vida moderna de boa parte da população leva ao sedentarismo, por outro lado, existe um número crescente de indivíduos que já ultrapassaram a faixa necessária para saúde de atividade física diária, estando em busca de superação de suas próprias marcas, o que, eventualmente, pode levar a conseqüências graves.

Devem ser feitas distinções com o intuito de orientar a população sobre as inúmeras diferenças entre a atividade física, os exercícios físicos e as atividades esportivas.Com o objetivo de prevenção de doenças e de promoção de saúde, portanto, deve-se incentivar, sempre, as atividades físicas na forma de exercícios regulares. A orientação para a população geral deverá ser quanto à atividade física a ser executada, ou seja, na forma de exercícios físicos regulares, a princípio, em uma faixa de intensidade leve a moderada.

Cada vez mais, indivíduos em geral querem ser atletas, espelhando-se em ídolos do esporte, o que remete à reflexão: “Como? Quando? Quanto?”. Por outro lado, existem cada vez mais indivíduos no pólo oposto, que mergulham no sedentarismo (o que explica a epidemia atual de obesidade), cujo maior esforço é apertar botões dos controles remotos ou mesmo dos aparelhos de microondas para preparar o “fast food”, o que remete à mesma reflexão: “Como? Quando? Quanto?”.

Hoje, a sociedade vivencia esta dicotomia: se por um lado um grupo quer se exceder, por outro, há, também, um grande grupo que não abandona o sedentarismo, necessitando de motivação e de auxílio multi-profissional na orientação das suas atividades físicas, caracterizadas por exercícios regulares que, eventualmente, poderão ser incorporados a determinadas atividades esportivas.

Assim, pode-se responder à pergunta “Como?”. Com bom senso, pode-se gerenciar o grau de atividade física para os já esportistas, assim como para os sedentários, fazendo-os perceber que a área onde são encontrados os benefícios dos exercícios físicos regulares está bem adiante da inatividade física, mas, certamente, muito antes de recordes olímpicos.

À pergunta “Quando?”, responde-se com a indicação de que se deve fazer os opostos perceberem que todos os dias poderão ser realizadas atividades físicas, mas com graus de intensidades variados, de acordo com o nível de aptidão de cada indivíduo, o que também responderá à questão do “Quanto?” poderão realizar.

A dualidade continua no apelo ao físico ideal (aspecto exterior) e às condições cardiorespiratórias e metabólicas (aspecto interior), devendo-se buscar o equilíbrio.
Uma questão ainda não muito bem estabelecida é se a população, de uma maneira geral, pode ser submetida a treinamento intenso, visando marcas cada vez mais difíceis de serem ultrapassadas, vencendo seus próprios limites.

Atividade física, exercício e esporte: será que quanto mais, melhor?
Estudos, evidenciaram um maior risco relativo de morte súbita, na população, com maior exposição às atividades esportivas de alto rendimento, quando comparado à população da mesma faixa etária (grupo de controle) que não tinha essa mesma exposição. Uma meta-análise, relatada por pesquisador, em populações de cardiopatas submetidos a treinamento físico supervisionado, aponta para a diminuição das chances de morte ou de novo evento cardiovascular, como o infarto agudo do miocárdio, em 30%.

Estudo demonstrou que os exercícios resistidos, três vezes por semana, melhoraram o controle glicêmico, além de diminuírem o risco da síndrome metabólica em pacientes diabéticos.

CONCLUSÃO
Pode-se, assim, de forma geral, concluir que a atividade física tem ação protetora global, mas, se exagerada, faz com que estes mecanismos de proteção diminuam, dando abertura para maiores riscos, quer sejam por lesões periféricas (musculares) ou, até mesmo, cardíacas (arritmias).

Tornando-se mais ativos, através da atividade física, os indivíduos tendem a um maior controle ponderal da composição corporal, a uma melhora da capacidade física (potência aeróbica), a um aumento na força e na flexibilidade do sistema osteomioarticular, a uma redução dos níveis de pressão arterial, prevenindo eventos cardiovasculares e re-infartos, além de, no âmbito psico-social, promover uma elevação dos índices de qualidade de vida.




Carlos Alberto Hossri O paradoxo do exercício: doses adequadas e benefícios, doses inadequadas e riscos. Revista de Educação Física 2007;137:70-73