quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Mudanças na proporção da ativação dos músculos posteriores da coxa durante exercícios para os membros inferiores.

O exercício é uma ferramenta eficaz no tratamento de doenças e na prevenção de lesões músculo-esqueléticas. Para prevenção de determinadas condições e no tratamento de indivíduos com osteoartrite de joelho, tem-se demonstrado que o exercício de formas específicas pode ser mais vantajoso e benéfico em relação a outros exercícios.
Pessoas com osteoartrite no compartimento medial do joelho demonstraram uma atividade dos posteriores de coxa laterais (bíceps femurais) aumentada e uma atividade diminuída da porção medial (semitendinoso e semimembranoso) dos posteriores de coxa durante a marcha quando comparados a indivíduos saudáveis (grupo controle). Essa pode ser uma tentativa de diminuir a sobrecarga sob o compartimento acometido (doente) e controlar (nesse caso, reduzir) o momento de adução externa do joelho (varo) por meio da manipulação da ativação dos posteriores de coxa para produzir um momento de contraposição à abdução da musculatura interna do joelho (valgo).
Desde que o torque produzido pelas porções medial e lateral dos posteriores de coxa pode desempenhar um papel na atenuação da carga no plano frontal, a habilidade desses músculos em produzir torque torna-se importante.
A capacidade das porções medial e lateral dos posteriores de coxa para gerar torque pode não ser igual. Uma razão é que o braço de momento (braço de torque) (moment arm) da porção lateral dos posteriores de coxa é aproximadamente metade daquela apresentada pela porção medial. Uma segunda razão relaciona-se à habilidade dos músculos posteriores da coxa de produzirem força. A área transversal fisiológica da porção medial dos posteriores da coxa (semitendinoso e semimembranoso) foi documentada como 23.83 cm2, enquanto que foi reportada 13.04 cm2 para a porção lateral (bíceps femural- cabeça longa e curta). Parece que há um desequilíbrio inerente favorecendo os posteriores da coxa mediais.
Enquanto que muito do stress sob o compartimento medial do joelho ocorre devido à carga axial do corpo, o desequilíbrio sugerido no balanço do torque produzindo potencial entre os posteriores da coxa mediais e laterais pode ser outro fator que explica o porquê que a osteoartrite no compartimento medial do joelho é mais comum na população do que a doença do compartimento lateral do joelho. Se o momento da adução é um fator de risco para o desenvolvimento e a progressão da osteoartrite de joelho, então o controle desse momento seria importante na contraposição do impacto da Osteoartrite de joelho. Os posteriores laterais da coxa enfraquecidos são incapazes de produzir um intenso momento de contrabalanço da abdução, o que poderia auxiliar na diminuição da sobrecarga no compartimento medial e reduzir o dano que pode ser gerado com um momento de adução excessivo.
Uma função muscular adequada ocorre quando as tarefas posturais e de movimentação requisitadas são praticadas de modo bem coordenado, de maneira que não haja adaptações negativas no sistema musculoesquelético (lesão muscular ou ruptura da cartilagem). Uma maneira de contrapor o desequilíbrio mecânico proposto entre os posteriores mediais e laterais da coxa e evitar essas adaptações negativas seria a designação de exercícios que ativassem preferencialmente os posteriores laterais da coxa. Desde que os posteriores laterais da coxa contribuem para a rotação externa da tíbia e os posteriores mediais da coxa contribuem para a rotação interna da tíbia, talvez a rotação interna e externa do pé durante os exercícios padrão para os posteriores da coxa possam ser capazes de ativar seletivamente os posteriores mediais e laterais, respectivamente. Os registros eletromiográficos (EMG) muscular mostram que os posteriores mediais e laterais podem ser preferencialmente recrutados utilizando a rotação tibial. Estudos mostram que durante os exercícios para os posteriores da coxa, a rotação externa dos pés modifica a proporção de ativação muscular medial-lateral para favorecer os posteriores laterais da coxa; e a rotação interna modifica a proporção para favorecer os posteriores mediais da coxa.
Por meio da prática dos exercícios para os posteriores da coxa com os pés em uma posição rodada externamente, poder-se-ia aumentar a capacidade de produção de força dos posteriores laterais mais do que os posteriores mediais, o que poderia ajudar a ultrapassar o menor braço (momento de força) e áreas de secção transversal da musculatura lateral. Uma modificação no momento balanço tem implicações no auxílio da mudança do stress sob o compartimento medial do joelho por meio da produção de um momento de valgo interno do joelho com os posteriores da coxa.
Outra utilização potencial para a alteração da proporção de ativação médio-lateral dos posteriores da coxa durante exercícios para membros inferiores seria na reabilitação e prevenção de lesões dos posteriores da coxa em populações de atletas. Desde que em populações de atletas a prevalência de lesões nos posteriores laterais (bíceps femurais) é muito maior que nos posteriores mediais, essa propensão de lesão dos posteriores laterais pode também ser beneficiada por meio da prática de exercícios para os posteriores da coxa com os pés rodados externamente para focar os posteriores laterais e reduzir potencialmente o desequilíbrio medial-lateral dos posteriores da coxa proposto.
Estudos demonstram a possibilidade de ativação seletiva dos músculos mediais e laterais dos posteriores da coxa durante os exercícios padrão para membros inferiores por meio da modificação da rotação dos pés. Entretanto, ainda não se sabe se isso poderia ser utilizado como uma ferramenta útil no tratamento dos sintomas da osteoartrite de joelho, na redução da degradação da cartilagem e no tratamentoe na prevenção da lesão dos posteriores da coxa. É possível que a prática de exercícios com alterações no posicionamento dos pés possa reduzir o desequilíbrio na força dos posteriores da coxa, e também possa auxiliar na modificação dos padrões de movimento (estratégias de ativação muscular), permitindo que as pessoas tenham um maior controle motor sob a ativação dos posteriores mediais/laterais durante a deambulação (caminhada). O efeito geral desse tipo de programa de treinamento é difícil de ser previsto e necessitaria mais estudos para a determinação de sua utilidade clínica. Estudos longitudinais seriam necessários para confirmar se a ativação seletiva dos músculos dos posteriores durante os exercícios poderia, de fato, ser uma intervenção eficaz na prevenção e no tratamento das lesões músculo esqueléticas e nas doenças degenerativas.









LYNN S.K., COSTIGAN P.A. Changes in the medial–lateral hamstring activation ratio with foot rotation during lower limb exercise. Journal of Electromyography and Kinesiology 19 (2009) e197–e205

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Treinamento resistido e a marcha funcional em pacientes com doença de Parkinson

A doença de Parkinson (DP) é uma doença que afeta o sistema nervoso central e se manifesta, geralmente por anomalias na conduta muscular, e que afeta 1 em cada 100 pessoas, normalmente com mais de 50 anos; é a segunda doença neurodegenerativa mais comum. Os sintomas primários em pacientes com DP incluem tremor grosseiro dos dedos ou em outros músculos dos membros inferiores quando em repouso, rigidez na postura, bradicinesia, reflexos posturais prejudicados e distúrbios de marcha associados. A maior complicação resultante dos sintomas são as lesões físicas geralmente resultantes do aumento da freqüência de quedas. Lesões associadas às quedas tais como as fraturas de quadril acabam resultando em internação e conseqüentemente em aumento da mortalidade. A progressão dos sintomas em pacientes com DP está também associada com a deterioração na condição física. Pessoas idosas com ou sem DP são caracterizadas pela pobreza de movimento, perda força e resistência muscular, e pela diminuição da capacidade funcional. A fraqueza pode surgir de vários fatores associados com a doença incluindo a inatividade resultante da incapacidade, assim como as modificações eletrofisiológica na ativação muscular na descarga padrão de unidades musculares durante a ativação e coativação de grupos musculares. Tipicamente, quando esses pacientes passam a apresentar uma diminuição na coordenação, muitos deles preferem restringir suas atividades justamente pelo perigo de lesões. Esta restrição de atividade resulta em atrofia muscular semelhante à condição de indivíduos idosos sedentários. O treinamento resistido é conhecido como um componente benéfico de um programa de exercícios designado para aumentar a força muscular e a capacidade funcional de adultos idosos e indivíduos que apresentam o mesmo quadro resultante de doença ou de incapacidade como artrite. Esta perda de força muscular e de massa muscular poderia ser esperada como uma forma de degradação fisiológica, apesar da efetividade do tratamento farmacológico. Essa técnica pode também ser mantida facilmente pelo paciente e pode ser eficaz para a manutenção dos exercícios. A marcha Parkinsoniana, a qual é característica da doença é descrita como festina, com diminuição dos passos largos, moderada diminuição da cadência e acima de tudo, da velocidade de movimento, e distúrbios associados na amplitude do movimento. É geralmente aceito que o treinamento de força melhora a marcha embora poucas medidas quantitativas tenham sido obtidas para mostrar que o treino de força melhora a marcha em pacientes portadores de DP. O objetivo desse estudo foi de determinar se o protocolo de treinamento de resistência poderia produzir aumentos de força no melhoramento funcional da marcha em pacientes com DP. Quatorze pacientes sedentários, portadores com DP (estágios 2-3), com média de idade 65.5 anos participaram desse estudo. Seis pacientes normais (sem doença de Parkinson) participaram como controle. Os 20 indivíduos foram submetidos ao treinamento resistido vigoroso (o peso inicial foi de 60% 1RM) por 8 semanas. Treinavam 2 vezes por semana sob supervisão qualificada. Os exercícios estavam visando predominantemente os membros inferiores. Eles incluíram o leg press, a flexão joelho, a extensão da perna, o trabalho da panturrilha e os abdominais tradicionais crunch. Uma análise computadorizada da marcha foi realizada no início e no final do estudo por um programa tridimensional. Com o treinamento, os pacientes portadores de DP mostraram aumentos significativos nos comprimentos dos passos. O treinamento resistido promoveu um pequeno, mas consistente aumento no ângulo postural da cabeça relativo ao chão, durante a marcha do grupo dos portadores de DP. Os pacientes com DP os quais apresentam incapacidades e sintomas mais severos podem ser esperados a apresentar uma performance inicial mais precária e um ganho menor quando comparados à performance dos indivíduos normais, porque os pacientes portadores de sintomas mais severos apresentassem uma performance inicial mais prejudicada em relação aos indivíduos controle, pelo fato da doença contribuir para uma atrofia por desuso. Foi encontrado que os pacientes portadores da doença podem conseguir ganhos na performance do treinamento resistido semelhantes aqueles do grupo controle e que este tipo de condicionamento pode ser benéfico como sendo parte de uma estratégia de reabilitação física e de uma manutenção física. Os ganhos na performance dos portadores de DP foram associados aos aumentos significativos dos elementos quantitativos da marcha incluindo o comprimento do passo e modestos aumentos no pico de velocidade do movimento, principalmente na rede de velocidade do movimento durante a marcha (exemplo a velocidade do ombro e do quadril). A dificuldade com a musculatura proximal é uma característica da DP e pode estar associada com uma assimetria da postura, com a dificuldade na transição dos movimentos quando a doença é bem acentuada unilateralmente. Assim, a correção da fraqueza abdominal pode ser de extrema importância para os protocolos tratamento físico para essa população de pacientes. Resumindo, nós demonstramos que os pacientes portadores de DP entre os níveis médio e moderado podem obter um ganho de força similar ao dos idosos normais a partir de um treinamento resistido. Este ganho de força está associado com aumentos quantitativos significativos na marcha. Nós concluímos que os portadores de DP entre níveis médio e moderado podem se beneficiar de maneira favorável com o treinamento resistido e que este treinamento deve ser incluído como parte de um programa de reabilitação com outras técnicas terapêuticas as quais tem sido mostrada como forma de se promover uma melhora da velocidade em pacientes portadores de DP. O treinamento resistido pode melhorar a qualidade de vida em pacientes portadores de DP, pois melhora o equilíbrio, ajuda na locomoção, fortalece os músculos específicos do treinamento, melhora ainda o estado emocional dos pacientes por melhora sua auto-estima e ao dar-lhes uma sensação de segurança, e conseguir diminuir sua dependência funcional ou até mesmo conseguir sua independência total.
Referência bibliográfica Scandalis TA, Berliner JC, Helman ll, Wells MR; Resistance training and gait function in patients with Parkinson's disease. Am J Phys Med Rehabil 80:38-43; 2001