terça-feira, 1 de junho de 2010

MECANISMOS DE LESÃO ACIDENTAIS VERSUS NÃO-ACIDENTAIS RELACIONADAS AO “LEVANTAMENTO DE PESO” EM JOVENS VERSUS ADULTOS



Com base em análise das lesões relacionadas ao treinamento resistido que resultaram em visitas aos centros de emergência dos EUA, parece que as crianças apresentam um menor risco de entorses articulares e estiramentos musculares relacionadas ao treinamento resistido quando comparadas aos adultos. A maioria das lesões relacionadas ao treinamento resistido em crianças que ocorreram em estudo foi resultante de acidentes que poderiam potencialmente ter sido prevenidos com o aumento da supervisão e o cumprimento estrito das diretrizes de segurança. As evidências acumuladas ao longo da última década têm esclarecido o risco relativo de lesão relacionada ao treinamento resistido comparado com outras formas de participação em atividades esportivas. O treinamento resistido que incorpora a instrução adequada das técnicas é aceito como um modelo de exercício seguro e eficaz para pré adolescentes e crianças adolescentes pela maioria das comunidades médicas, incluindo a Academia Americana de Médicos da Família (AAFP), a Academia Americana de Cirurgiões Ortopedistas (AAOS), o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), a Sociedade Médica Americana para a Medicina do Esporte (AMSSM), a Sociedade Ortopédica Americana para a Medicina do Esporte (AOSSM), a Academia Americana Osteopática de Medicina do Esporte (AOASM), a Associação Nacional de Força e Condicionamento (NSCA), a Academia Americana de Pediatria (AAP) e o Conselho Presidente de Aptidão Física e Esporte.
Em adição ao aumento das evidências acerca da segurança do treinamento resistido supervisionado em atletas jovens e adolescentes, há evidências que o treinamento resistido possa reduzir a incidência de lesões nos esportes. Essa evidência é baseada nas adaptações benéficas que ocorrem nos ossos, ligamentos e tendões após o treinamento e possui sustentação por documentações baseadas em estudos epidemiológicos.
Os efeitos positivos de um programa de treinamento resistido no aumento da força em adultos têm sido amplamente documentados na literatura. As melhorias na força alcançadas com o treinamento resistido ocorrem por meio da hipertrofia muscular (aumentos na área de secção transversal), mudanças estruturais na fibra muscular (modificações no ângulo de penação), e no sistema neuromuscular (aumento da sincronização e recrutamento das unidades motoras, o que origina o aumento da força em crianças e adolescentes), bem como adaptações metabólicas (suprimento energético melhorado).
Os benefícios do treinamento resistido agora são considerados maiores do que aqueles atribuídos ao crescimento normal e desenvolvimento em crianças e adolescentes. Pesquisadores, listaram os benefícios potenciais do treinamento resistido em atletas jovens que variam do aumento da força muscular até o melhoramento da saúde mental, bem como a estimulação de uma atitude positiva que possa fazer do treinamento resistido uma atividade por toda a vida.
A maturidade física e o tamanho, que podem limitar a utilização de certas máquinas voltadas para o treinamento resistido, não devem ser fatores que limitem a participação em programas de treinamento resistido desenvolvidos e supervisionados. Pesquisadores ainda, demonstraram que, com uma supervisão adequada, as crianças podem ser testadas com segurança e treinadas mesmo com a aplicação de esforços máximos (resistências máximas). Em geral, se os jovens manterem uma maturidade emocional suficiente para aceitarem e seguirem as orientações, então eles estarão prontos para o treinamento de força. Se forem incapazes de seguir a supervisão, então a participação deve ser limitada. Todas as crianças e adolescentes devem ser supervisionados de perto e serem providos com feedbacks competentes e consistentes sobre seu desempenho nos exercícios. Embora as lesões durante o treinamento resistido sejam menos freqüentes do que no desempenho esportivo de fato, elas podem acontecer e devem ser relacionadas ao nível de maturidade. Estudo indica que dois terços das lesões prolongadas em pacientes jovens ocorreram nas mãos e nos pés e foram freqüentemente mais relacionadas a “quedas” (derrubar o peso) e por “preensão” (prender, esmagar) na descrição das lesões. Uma atenção adequada na instrução das maneiras de como se comportar na sala de musculação e também durante a utilização dos equipamentos, conjuntamente com as precauções para prevenir brincadeiras e atenção acerca de como manusear adequadamente objetos pesados na sala de musculação, podem limitar o risco de lesões acidentais na sala de musculação.
Para reduzir a ocorrência de lesões não acidentais em crianças e adolescentes, uma ênfase deve ser colocada na utilização segura dos equipamentos e a técnica correta de praticar os exercícios. Se for permitido ao atleta praticar as manobras referentes ao exercício da forma incorreta com cargas baixas, então o risco de lesão será ampliado com o aumento das cargas. Para melhorar a técnica dos exercícios, os instrutores devem fornecer feedbacks contínuos e imediatos ao atleta jovem, tanto durante a sessão quanto após cada sessão de exercícios). Isso permitirá então que se conscientizem acerca da forma e técnica adequada de execução, bem como as posições indesejáveis e potencialmente perigosas. Adicionalmente, o feedback visual (retorno da informação visual) pode ser útil para fazer com que o jovem atleta fique consciente da prática das técnicas do exercício por meio da identificação visual da biomecânica inadequada. Os instrutores podem utilizar espelhos ou equipamentos de vídeo para auxiliar no fornecimento de um feedback visual. Um feedback visual e verbal pode auxiliar os jovens atletas para combinarem o desempenho de suas técnicas percebidas para suas verdadeiras técnicas. Acima dos benefícios óbvios de uma supervisão adequada na redução no risco de lesão na sala de musculação, uma supervisão direta aumenta a eficácia do treinamento resistido.

Aplicações Práticas
Se adequadamente supervisionado, o treinamento resistido pode ser seguro e eficaz e pode também facilitar na redução do risco para lesão durante a participação em atividades esportivas. O programa de treinamento resistido para crianças mais novas deve focar principalmente na segurança da utilização dos equipamentos para evitar lesões acidentais, na aquisição das técnicas apropriadas do treinamento resistido e, finalmente, na progressão do treinamento apropriada, que permita o desenvolvimento da força e da potência. O treinamento resistido sem supervisão deve ser evitado tanto em pré adolescentes quanto em adolescentes.

MYER, GD, QUATMAN, CE, KHOURY, J, WALL, EJ E HEWETT, TE Youth versus Adult WEIGHTLIFITING Injuries presenting to United States emergency Room: Accidental Versus Nonaccidental Injury Mechanisms. J Strength Cond Res 23(7): 2054-2060, 2009

Análise da percepção de lesões em academias de ginástica

A conscientização da importância de assegurar-se a qualidade de vida vem provocando mudanças no estilo de vida das pessoas, o qual tende a ser mais ativo, por meio da adesão às atividades físicas. Estudos mostram que a atividade física promove benefícios imediatos (regularização dos níveis de glicose sanguínea, de adrenalina e noradrenalina, assim como da quantidade e qualidade do sono) e a longo prazo (melhora do funcionamento cardiovascular, flexibilidade, resistência, potência e força muscular, equilíbrio, coordenação e velocidade de movimento). Além disso, existem evidências quanto à diminuição da incidência de doenças músculo-esqueléticas, cardiovasculares, metabólicas e da taxa de mortalidade na população e aumento do bem-estar subjetivo.

Os efeitos da atividade física são dependentes de algumas variáveis como intensidade, duração, freqüência e tipo de atividade realizada. Dessa forma, mudanças nessas variáveis podem levar a alterações positivas ou negativas no organismo). Sabe-se que a população que pratica algum tipo de atividade física, quer no sentido competitivo ou recreativo, apresenta-se exposta a acidentes decorrentes dessa prática denominados lesões esportivas. O termo lesão é definido como qualquer alteração tecidual que resulte em dor ou desconforto, sendo que o sistema músculo-esquelético é citado como o mais freqüentemente acometido.

A literatura mostra que idade, sexo, condição física do participante, assim como a especificidade da atividade esportiva pode contribuir para uma maior incidência e severidade dessas lesões.

Após os anos 70, o surgimento das academias de ginástica tem sido considerado um dos maiores fenômenos sociais em todo o mundo. Inicialmente, as atividades físicas realizadas em academias eram procuradas com objetivo principalmente estético. Este objetivo ampliou-se na atualidade, destacando-se a busca por condicionamento físico e promoção de saúde, modificando a realidade nas academias. Além da diversidade de aulas individuais e em grupo, são encontrados inúmeros e sofisticados aparelhos de musculação. Atualmente, a musculação é praticada no sentido competitivo, recreacional e como parte do treinamento de atletas de outras modalidades. Entretanto essa atividade esportiva pode causar lesões músculo-esqueléticas importantes. Algumas pesquisas sugerem que o treinamento excessivo, o uso impróprio das técnicas de treinamento, ou a combinação de ambos, além de outros fatores, podem ser causas dessas lesões nos praticantes dessa modalidade esportiva. Alguns estudos apontam a falta de supervisão na realização de exercícios como possível causa de lesão na prática da musculação.
Os resultados de estudo evidenciam que mais da metade dos alunos praticantes de atividade física em academias relataram a percepção de alguma lesão. Destes, 48% acreditavam que a lesão estava relacionada às atividades realizadas na academia. Pesquisadores, constataram que mais da metade dos alunos relataram dores resultantes da prática da musculação e relacionaram-nas unicamente à modalidade esportiva em questão. No estudo com adolescentes praticantes de musculação, foi encontrada uma incidência de 39% de lesão.

A idade dos alunos das academias apresentou grande variabilidade (18 a 69 anos). Este dado chama a atenção para a presença de pessoas mais velhas na academia. Isso pode estar relacionado ao fato de que os benefícios da atividade física regular, durante o processo de envelhecimento, vêm sendo amplamente divulgados.

Em relação à localização da lesão, o joelho foi o segmento corporal mais freqüentemente citado, seguido por ombro e coluna. No estudo realizado por pesquisadores, o ombro foi o segmento mais acometido na prática da musculação, seguido por coluna e cotovelo. Um outro pesquisador, comparando diversos estudos, verificaram uma maior incidência de lesões na coluna em relação a outros segmentos corporais entre praticantes de musculação. Os tipos de lesões associados com a prática da musculação mais encontrados foram tendinite de supraespinhoso, instabilidade anterior de ombro, espondilolistese, osteoartrite patelofemoral e tíbiofemoral.

Pesquisadores, analisando desconfortos musculoesqueléticos percebidos pela população em geral, verificou uma maior freqüência destes em pessoas mais velhas. Em um estudo sobre a prevalência de problemas articulares foi encontrado um aumento da freqüência destes com a idade.

A partir dos resultados de estudos, nota-se que a percepção de lesões osteomusculares por praticantes de atividade física não é um evento raro. Não obstante a dimensão do problema, grande parte dos alunos (48%) que frequentam academias de ginástica acreditam que tais lesões estão relacionadas aos exercícios realizados na academia. Torna-se relevante, portanto, alertar a população e os profissionais da área desportiva sobre a importância de se praticar atividade física com segurança a fim de alcançar um nível de treinamento satisfatório e com qualidade.

Para que se obtenha os efeitos desejáveis do treinamento físico, é primordial que este seja conduzido em intensidade e duração adequados. Aliado a isso, a frequência elevada de lesões osteomusculares percebidas ressaltam a importância da presença de um profissional qualificado no local. Educadores físicos, fisioterapeutas e proprietários de academias devem estar atentos à possível ocorrência de lesões seguidas ao exercício físico, para que estratégias de intervenção e prevenção sejam desenvolvidas. Por fim,
acrescente-se a essas ações, a necessidade de conscientizar os alunos a cerca dos riscos existentes durante o treinamento e orientá-los para a identificação precoce de sinais ou sintomas que possam ameaçar a sua saúde, buscando com isso minimizar a ocorrência de lesões e garantir melhor qualidade de vida.

ROLLA, A. F. L., ZIBAOUI, N., SAMPAIO, R. F., VIANA, S. O. Análise da percepção de lesões em academinas de ginástica de Belo Horizonte: um estudo exploratório. R. bras. Ci.e Mov. 2004; 12(2): 7-12.

Prescrição dos exercícios de musculação

A anatomia descreve a localização, forma, origem e inserção dos músculos esqueléticos. Esse conhecimento é básico e fundamental para qualquer profissional que atue diretamente nesta musculatura (fisioterapeutas e professores de educação física, por exemplo). Entretanto, para desenvolver um trabalho muscular eficiente de força é indispensável conhecer profundamente a anatomia muscular, além de saber os níveis de ativação elétrica dos músculos nas diferentes variações dos exercícios. Portanto, livros, revistas ou artigos que se proponham a descrever a ação muscular nos exercícios de musculação devem estar baseados na anatomia e na ativação elétrica dos músculos. Desta maneira, o treinamento será elaborado com diversas possibilidades, e cada indivíduo deverá fazer apenas os exercícios mais indicados para sua real condição física.
A análise anatômica e a análise eletromiográfica mostraram resultados distintos em alguns exercícios estudados, e em outros exercícios essas análises complementaram-se, o que mostra a necessidade de mais estudos.
Concluímos que os profissionais de educação física devem ter conhecimento profundo da anatomia muscular e da atividade elétrica do músculo durante os diferentes exercícios , tendo sempre em mente a necessidade de procurar um referencial teórico e metodológico bem fundamentado, pois um planejamento baseado no conhecimento anatômico e eletromiográfico pode direcionar melhor o treino em função dos objetivos e limitações do praticante.
MALDONATO D.T.; CARVALHO M.; BRANDINA K.; GAMA E.F.; Análise anatômica e eletromiográfica dos exercícios de leg press, agachamento e stiff. Revista Integração N°53 151-157, 2008